Resumo
A carreira esportiva é um processo longitudinal constituído por diversas fases caracterizadas pelo grau de especialização esportiva, fase da vida do(a) atleta referente ao desenvolvimento humano, relações sociais e nível acadêmico. Durante ela, ocorre uma série de acontecimentos que podem ser percebidos como transições na carreira esportiva, uma vez que transformam o modo como o(a) atleta se relaciona no mundo. Diferentemente dos trabalhos encontrados sobre transições de carreira no esporte que abarcam a compreensão das transições de carreira de forma objetiva, voltados principalmente para sua descrição objetiva, suas características e estratégias de enfrentamento desenvolvidas pelos(as) atletas, o objetivo desta proposta foi compreender como atletas de basquetebol vivenciam transições que fazem parte do processo de desenvolvimento da carreira esportiva a partir do relato de atletas e ex-atletas desta modalidade. Neste sentido, propusemos a utilização do termo transições durante a carreira esportiva no lugar de transições de carreira esportiva, que comumente é sinônimo de encerramento da carreira esportiva na literatura especializada, pois esta nomeação nos liberta das amarras da periodização do ensino da modalidade esportiva, das categorias previstas na modalidade, das condições de previsibilidade do imprevisível. O método de análise fundamentou-se no método fenomenológico desenvolvido por Husserl aplicado à entrevista fenomenológica. A partir da entrevista, de sua transcrição, das reduções fenomenológicas exigidas e da aplicação do método do cruzamento intencional para o encontro com as vivências essenciais dos(as) atletas, pudemos nos encontrar com cinco vivências essenciais nos processos de transição na carreira (eu me apaixonei... e fiquei, a eterna busca Nunca deixe de tentar, re-conhecer-se, com o basquete eu aprendi...coisas pra vida e balanço defensivo) que nos aproximaram de importantes questões existenciais exploradas por Merleau-Ponty: a liberdade, a temporalidade, o corpo no mundo e a intersubjetividade. Elas nos permitiram compreender o afeto desenvolvido na prática da modalidade esportiva no entrelaçamento à busca incessante, porém cuidadosa, por uma carreira como atleta profissional que possibilita o reconhecimento de si e do outro a partir dos relacionamentos desenvolvidos, num processo de aprendizado constante proporcionado pelo mundo do basquetebol e pelas relações intersubjetivas coconstituídas neste ambiente que transformam um grupo voltado para um objetivo numa comunidade encharcada de afeto, solidariedade entre pares e gratidão. A análise de tais vivências nos aproximou de duas vivências estruturantes: o vivido através(sado) o vivido com e a gratidão, as quais nos permitiram identificar a importância de técnicos, familiares e atletas mais experientes nos processos de transição durante a carreira esportiva e indicar que as intervenções possíveis a estes só auxiliam o(a) atleta se houver empatia e disposição para um encontro genuíno e que respeite quem é o(a) atleta e quais são suas necessidades. Os demais achados nos permitem realizar discussões acerca dos conceitos de carreira e transição com autores(as) das ciências do esporte e da gestão, enriquecendo de possibilidades de trabalhos futuros o rol de estudos sobre o fenômeno carreira esportiva