Resumo


É comum observarmos entre os cantores a ideia de que o corpo é o instrumento de sua arte. Apesar de vivermos num momento onde entender a vida e nossas experiências por uma perspectiva sistêmica deveria ser algo já difundido, perpetua-se um modelo de entendimento do canto compartimentalizado e desconectado da vida do cantor. Tentando entender esse problema, nesta pesquisa de natureza qualitativa questionamos se os cantores líricos identificam o seu corpo como seu instrumento, ou como locus da performance. E, nesse sentido, qual é o papel das práticas motoras (práticas corporais e de atividade física) no seu desenvolvimento e na sua performance. Sabendo que essas questões são aspectos importantes das práticas de Educação Somática, propusemos interlocução entre esse tipo de prática corporal e as experiências com cantores líricos. A investigação foi organizada em três etapas: 1) Prática de Educação Somática associada a aulas de canto individuais, por um ano; 2) Prática de Educação Somática associada a aulas de canto em grupo, em dois encontros; 3) Entrevistas semiestruturadas com 3 cantoras e 2 cantores que possuem experiência com Educação Somática. Durante os encontros práticos, foi tomado nota das impressões, percepções e relatos dos estudantes num caderno de campo. O material, constituído das conversas e das experiências práticas, foi analisado por uma perspectiva somaestética, disciplina filosófica proposta por Richard Shusterman. Fica evidenciado que, para os participantes da investigação, a prática de Educação Somática permite que eles sintam e conheçam a si mesmos de maneira ampliada e fica claro como corpo e voz se tornam indissociáveis. Também há a compreensão de que o corpo que atua, o que canta e o que ensina são os mesmos. Apesar de haver uma percepção do corpo subjetivado quando relatam suas experiências, a ideia de corpo como instrumento é aceita pelos participantes dessa investigação
 

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