Sobre
APRESENTAÇÃO
É COM SATISFAÇÃO QUE O NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA (NCPI) PUBLICA O TEXTO PARA DISCUSSÃO “O BAIRRO E O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL NA PRIMEIRA INFÂNCIA”, ESCRITO POR CIRO BIDERMAN E CAMILA SOARES. Sua elaboração partiu de uma extensa pesquisa acadêmica para reunir e disseminar evidências recentes sobre a influência que o território em que a criança cresce, com as pessoas que ali ocupam, exerce sobre seu desenvolvimento. Para além do conhecimento científico, a obra também buscou apresentar práticas inovadoras de intervenção nesses espaços já adotadas como políticas públicas no Brasil.
A realização de intervenções urbanísticas associadas a programas que visam atingir impacto social positivo para o desenvolvimento integral infantil vem ganhando força no mundo. No Brasil, também tem conquistado a atenção crescente de sociólogos da infância, sanitaristas, urbanistas e formuladores de políticas. A proposta se oferece como uma estratégia potente para reduzir uma série de desigualdades que atingem a criança pequena – de renda, espacial, de saúde e educação e de oportunidades – e que, se não forem atacadas, tendem a se alargar muito ao longo da vida.
É essencial pensarmos nas condições e características das localidades em que vivem as crianças brasileiras. Infelizmente, para muitas delas, os espaços próximos à moradia da família – que, em nosso Texto para Discussão, chamamos de “bairro” – têm condições precárias, sem infraestrutura básica de saneamento, de água e de luz, e sem acesso a áreas verdes e de lazer. As crianças do Brasil crescem em bairros muito diferentes e isso pode provocar efeitos adversos no futuro, potencializando ainda mais o insuportável nível de desigualdades já presente na sociedade.
No contexto da pandemia da Covid-19, a discussão aqui apresentada torna-se ainda mais relevante. Afinal, durante o período de distanciamento social, as crianças e suas famílias permaneceram em casa e as saídas para atividades essenciais ocorreram, na maioria das vezes, apenas no seu entorno. O mundo das crianças – e também de muitos adultos – tornou-se limitado. Explorar espaços de lazer que exijam o uso de transporte público, como um parque, por exemplo, deixou de ser uma boa opção. Ir ao shopping ou à casa de parentes em outros bairros, também. A escola, ambiente de aprendizado, de socialização e de nutrição, fechou as suas portas. Com isso, os espaços próximos à moradia da família tornaram-se o local, fora de casa, que é de fato vivido pela família.
A pandemia da Covid-19 nos faz, então, refletir sobre a desigualdade espacial e sobre o papel do bairro no desenvolvimento integral na primeira infância. Também somos levados a refletir sobre as consequências de vizinhanças tão diferentes na primeira infância. Tudo isso torna ainda mais importante esta discussão, que partiu da investigação criteriosa de mais de dois mil documentos e agora é apresentada aqui.
Boa leitura!