Resumo

A proposta desse estudo visa a compreender os efeitos do brincar na criança em tratamento de câncer e identificar os saberes necessários a um professor de classe hospitalar ao brincar nesse ambiente. Para respaldar meu olhar crítico diante da temática em questão, procurei dialogar com os autores Château, Huizinga, Kishimoto, Brougère, Guillén & Mejía, Bogdan & Biklen, André, Goffmam, Foucault, Morin, Laplantine, Borges e Tardif. Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa do tipo etnográfica, conforme teoriza André (1995). A autora considera que a pesquisa do tipo etnográfica é uma adaptação da etnografia à educação e justamente pelas características do trabalho em questão optei por essa abordagem. Participaram da pesquisa a professora da classe hospitalar e as crianças em tratamento de câncer internadas na pediatria do Hospital do Câncer em Cuiabá – MT e para a coleta de dados foram utilizadas as técnicas de observação participante e entrevista semi-estruturada. Quanto à análise dos dados, segui as orientações de Minayo (2006), que sugere passos na construção de categorias durante a operacionalização dos mesmos. A partir desses passos, chegou-se a três categorias finais, intituladas: transição do real ao simbólico: o efeito do brincar para a criança com câncer; o brincar na realidade hospitalar e seus diferentes efeitos: afloração do desejo, mudança no estado de humor, conforto momentâneo, estímulo à tomada de decisão e melhora na comunicação e os saberes necessários a um professor de classe hospitalar ao brincar com crianças em tratamento de câncer. Desse modo, observou-se que o brincar na vida da criança em tratamento de câncer, além de propiciar a transição do desconforto ao conforto, transfigura faces apáticas e sofridas em sorrisos, gargalhadas e gritos de satisfação, bem como possibilita a transição do real ao simbólico e auxilia a criança na verbalização de suas angustias. Quanto ao professor de classe hospitalar que brinca com crianças em fase de tratamento oncológico, desvelou-se que os saberes necessários a esse professor transitam entre a cordialidade, o incentivo, as experiências anteriores, a sensibilidade e a percepção do ambiente hospitalar. Nesse sentido, considero que ele detenha atitudes e saberes que lhe auxiliem a ser um mediador receptível, sensível, humilde, amoroso, carinhoso, atencioso e, ainda, tenha conhecimento teórico básico sobre a criança e seu desenvolvimento, sobre o brincar e a “ludicidade”, sobre os tipos de câncer e efeitos do tratamento e sobre a psicologia infantil, além de banhar-se de princípios e valores como a responsabilidade, a ética e a amizade. Atitudes que concebo como significativas, complexas e extremamente humanas.

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