Resumo

Este trabalho explora a experiência humana de espaço, tempo e imaginação tendo como ponto de referência o modo como crianças interagem com a natureza pelo brincar espontâneo. Jogos e brincadeiras nos permitem reconhecer uma experiência que não está relacionada ao tempo cronológico ou ao espaço geométrico, mas à provocação da experiência imaginativa. Esta experiência é analisada à luz das noções de temporalidade e espacialidade presentes em Merleau-Ponty e da noção de imaginação poética presente em Gaston Bachelard. Merleau-Ponty descreve o caráter vivido do tempo relacionado à nossa espacialidade. Habitamos espaço e tempo. A substância oferecida pela natureza provoca nossa imaginação poética, conceito bachelardiano que subsidia sua fenomenologia da imagem. Estas questões são percebidas e tematizadas a partir da observação de crianças brincando em diferentes ambientes naturais no Brasil. As análises foram realizadas a partir de vídeos produzidos que sublinham a forte relação entre as crianças e o mundo, levando em conta as provocações ambientais e os desafios oferecidos. Nota-se a presença de risco e instabilidade no diálogo com os elementos e com os outros. Mas, diante do brincar espontâneo, é a imaginação que dialoga com os desafios e é a ação espontânea condutora do modo como as crianças habitam tempo e espaço. Estas experiências podem nos ensinar um modo de interrogar e olhar para o mundo. Requerem uma sensibilidade peculiar que nos permita melhor explorar nosso diálogo com o ambiente. Além de ampliar os estudos acerca da espacialidade e temporalidade, esta discussão permite pensarmos sobre modos diferentes e excitantes de habitarmos o mundo. O modo como as crianças habitam, exploram e interagem com ambientes onde há a presença de elementos da natureza são
paradigmáticos para pensarmos autonomia, independência e comprometimento ativo do ser humano com o ambiente.

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