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O brincar na Escola é algo extremamente diretivo e funcionalista a partir do momento em que a criança é privada da possibilidade de interagir, criar, explorar e até mesmo relacionar-se de forma autônoma.

Por outro lado, não podemos excluir a brincadeira como principal elemento ou canal de atuação da criança com o mundo que a envolve. Nela a criança busca suas referências de contato como meio de forma espontânea e prazerosa.

Para que, possamos ter uma riqueza no brincar , buscamos uma "alegoria da prática pedagógica no ato de brincar", desde as nossas origens, visando como objetivo, gerar uma "Educação Escolar Emancipatória" para nossas crianças.

A busca de meios para retardar ou minimizar esta realidade, abriu espaço a utilização da brincadeira "educacional", ou seja, a utilização do Brincar como elemento gerador de motivação no processo ensino-aprendizagem.

Vemos no ato da "brincadeira educacional" como prática pedagógica de uma Educação Escolar Emancipatória, uma forma de facilitar o processo de informação, mais fácil para a criança desenvolver-se na aprendizagem, de uma forma consciente e harmônica, onde a linguagem é incorporada nas mais variadas formas, principalmente prazerosamente, estabelecendo-se a diferença entre "compreender" e "decorar".

Desta forma questionamos: se o ato de brincar está diretamente vinculado ao poder ser espontâneo e se este princípio se anula quando o Brincar é direcionado, perguntamos como: "A brincadeira educacional pode ser utilizada, adequadamente, como maneira de construir a emancipação de nossos alunos?"

Esta questão poderia ser facilmente respondida através do enfoque emancipatório de pesquisa de jürgen Habermas, que se for metaforicamente utilizado como método de aplicação de atividades recreativas, pode contribuir para a formação de referências comportamentais e principalmente de conduta que favoreçam a criança no desenvolvimento de uma identidade crítica, criativa e principalmente emancipatória.

Procuremos, desta maneira discutir de forma alegórica, a inserção filosófica conhecendo alguns aspectos culturais, traduzidos desde o descobrimento e introduzidos na nossa cultura e que momentaneamente desprezamos, muitas vezes, por ser simples, mas ao mesmo tempo criativas, na operacionalização do brincar da criança, pois, consideramos que este brincar em muito se aproxima ou mesmo determina em menores proporções uma produção científica, ou melhor, filosófica, específica para a realidade da criança.

1- O ato de brincar como elemento gerador do pensamento filosófico da criança, pela sua auto-emancipação

A brincadeira é reconhecidamente um elemento de introdução inicial da criança no mundo dos adultos, e isto é facilmente observável se analisarmos as primeiras experiências de nossas crianças em relação às atividades realizadas pelos adultos, primeiramente na família, depois na comunidade, etc, de acordo com a cultura recebida nas suas raízes.

Meninos e meninas brincam de adultos quando imitam o cozinhar, o dirigir, o trabalhar. Situações não possíveis na realidade de serem vivenciadas, porém a importância que tais ações possuem para as crianças, denota uma forma de preparação para a vida adulta e predispõem uma disponibilização de exercitar o que poderá ser efetivamente vivenciado. Estas experiências certamente não seriam possíveis se a criança não tivesse a possibilidade de pensar esta ação de forma completa, traçando relações entre o pensar e o agir que estimulam a construção significativa de conhecimento.

Este agir, pensante e construtivo do conhecimento está diretamente voltado a um método que podemos classificar como dialético, pois a construção deste conhecimento se estabelece na relação recíproca entre o pensar e o agir, o que acaba determinando o próprio conhecer de forma específica e coerente.

O que ocorre é que mesmo havendo uma construção de conhecimento, que classificamos como dialética de significações para a criança, muitas vezes esta possibilidade é suprimida pela diretividade do ato educacional, dito formal, que limita a construção de conhecimentos espontâneos, através da criatividade e autonomia da criança.

2 - A escola e a coerção auto-imposta: para a manutenção da uniformidade e relativização da emancipação.

A escola como célula social, reproduz o mecanismo funcional da sociedade, negligenciando a formação de indivíduos emancipados e críticos.

De uma forma tradicional, a escola enfatiza padrões de rendimento e comportamento e busca atingir metas que na maioria das vezes, seleciona os indivíduos conforme a realidade sócio-econômica em que se encontra inserido.

Com o advento do Neoliberalismo verificamos uma inversão nesta seleção devido a fatores, como, o poder aquisitivo das famílias, que procuram manter eqüitativamente suas metas com qualidade, desta forma o aluno, principalmente no 1º segmento do 1º grau (ensino fundamental) passando por um "adestramento" que procura dirigir seu comportamento e sua capacidade criadora.

Contudo, a criança não recebe a possibilidade de construção plena de um auto-conhecimento no seu processo inicial educacional, o que, segundo Habermas, conduziria a se libertar da coerção auto-imposta que reduziria cabalmente seu nível de frustração futura, devido aos desvios educacionais existentes na busca de sua identidade.

A repressão de anseios e necessidades íntimas da criança o conduz a um processo de frustração indetectável , porém existente e que conduz os indivíduos adultos a uma quase que resignação a imposições sociais, políticas e econômicas, que o afastam da criatividade. Com a busca de espaços de criação, a criança exerce a possibilidade de transgredir a realidade em que se encontra, e este comportamento que faz parte de sua natureza, está presente em sua totalidade no brincar.

Segundo Zélia Cavalcanti Lima (1990) : "A brincadeira é meio privilegiado de inserção na realidade : expressa a forma como a criança reflete, ordena, desorganiza, destrói e reconstrói o mundo..." (p.70).

Esta forma de interagir com o mundo possibilita à criança, transcender padrões impostos e uniformizações pré-estabelecidas que o impedem de buscar a realização de suas necessidades e a construção de sua emancipação, o que deverá ocorrer de forma criativa, e criticar a luz dos fatos, para sua melhoria, bem como de toda a coletividade.

O que temos observado, porém, é que em nossas escolas, este comportamento é manipulado pedagogicamente, fazendo com que a criança seja sempre dirigida em suas ações e por conseguinte, reprima sua vontade, construindo um determinismo que afasta cada um de uma vida mais digna com suas ambições .

Neste caso a autonomia é relativizada, ou seja, só existe se for controlada e estiver vinculada a um bem estar comum. Cada um faz o que é necessário para o bem estar do grupo, pormenorizando a própria vontade e satisfação.

3 - Por uma educação emancipatória: a alegoria do brincar para a construção de uma reflexão crítica

A questão que envolve a educação infantil é principalmente, ao nosso ver, a ausência de educação, onde a criança possa interagir, agir, produzir, criar, desenvolver, elaborar de forma autônoma, mas é claro, orientada, e isto poderia ocorrer facilmente se o maior instrumento aplicável a sua realidade fosse valorizado: a brincadeira.

. A criança se vê estimulada na escola, a construir o conhecimento, através da riqueza de informações orientadas, através de estímulos presentes em seu cotidiano, influenciados pela cultura local, enraizadas em sua família e comunidade.

Com o brincar, e os problemas são resolvidos, não perante fórmulas elaboradas ou caminhos pré-estabelecidos, mas através de reflexões que ocorrem a partir do seu imaginário-social que acaba aproximando das soluções tanto pelo prazer da descoberta, quanto pela sua superação.

Não seria exagero suscitar que tal prática promoveria um momento de práxis onde a ação e reflexão sobre a realidade, envolveriam uma possível transformação, onde a criança promoveria com a naturalidade de um pequeno indivíduo consciente. Contudo, ainda temos que pensar neste processo como algo alegórico, fictício, porém não irrealizável, pois, a maior proposta é a construção da consciência de que o educador possui as ferramentas necessárias para tanto.

Usando como referencia, Terezinha Azerêdo Rios (1998), a escola nada mais é que : "... O espaço de transmissão sistemática do saber historicamente acumulado pela sociedade, com o objetivo de formar indivíduos, capacitando-os a participar como agentes na construção dessa sociedade". (p.34).

Se a escola , além de transmitir o saber, busca capacitar os indivíduos para a construção da sociedade, cada indivíduo necessita possuir a autonomia necessária para se legitimar como agente social.

Para tanto, a escola como instituição introdutória dos comportamentos sociais, busca estimular a formação de indivíduos reflexivos, não uma reflexão opressiva, contaminada de pressupostos hierárquicos e irredutíveis, porém que objetive a liberdade e que possibilite a negação à frustração de seus anseios, tendo em vista, que o educador faz parte da construção da identidade da criança .

4 - Considerações finais

Não podemos negar que grande parte de nossos educadores têm a preocupação latente com a formação, não simplesmente didático-pedagógica, mas também Sócio-cultural de indivíduos conscientes de sua importância como cidadãos.

A grande questão está no fato de que, para que possamos formar agentes sociais, devemos estimular o envolvimento com o processo social desde cedo , se possível ainda como crianças e no máximo como adolescentes.

Nossa preocupação maior é a de fazer do espaço de aprendizagem de crianças do ensino fundamental, um momento real de Educação Emancipatória, ou seja, de inserção na realidade social consciente, a partir da reflexão e principalmente da vivência de experiências, com o mundo que o rodeia.

Para tanto, torna-se necessário que a criança tenha a possibilidade de se inserir no mundo dos adultos através de suas características e potencialidades inatas e de sua subjetividade, e isto realmente só ocorre quando esta faz uso de seu instrumento maior de exploração do mundo: a brincadeira.

Desta forma, é necessário, que cada criança possa fazer uso da brincadeira, seu instrumento mais importante de exploração da realidade, neste processo, e que isto ocorra na escola, não só na pré-escola, mas principalmente na alfabetização e demais séries do ensino fundamental.

Para Vigotsky (1998):"No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de sue comportamento diário: no brinquedo é como se ela fosse maior do que na realidade" (p. 117)

É através da utilização da brincadeira e principalmente do contato com a realidade através de uma vivência espontânea e natural que a criança poderá além de tecer significações e elaborar conceitos, travar relações de conhecimentos palpáveis e significativamente emancipatórias.

A alegoria da emancipação educacional na formação de cidadãos mirins, não é algo inatingível, pois, mesmo a metáfora é referência básica na tecitura de conhecimentos, e o brincar na escola e na vida, nada mais é que uma forma de fazer a criança se inserir em uma vida social, tendo a liberdade de interagir com o mundo a partir de suas limitações e possibilidades.

Obs. O autor, professor. Ms. Alexandre Augusto Cruz de Oliveira (alexandreacoliveira@ig.com.br é Coordenador do Curso de Educação Física - UNIVERSO/São Gonçalo

Referências bibliográficas

  •  Freie, Paulo. Alfabetização: Leitura da Palavra Leitura de Mundo/Paulo Freire, Donaldo Macedo; Tradução: Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
  • Habermas, JURGËN - "Conhecimento e interesse". In: Os Pensadores . 48 . São Paulo. Abril, 1980.
  • Lima, Zélia Cavalcanti - "Brincadeira é coisa séria". In: Revista Informação Pedagógica. Rio de Janeiro, 1993.
  • Pozo, Juan Ignácio - "Teorias cognitivas da aprendizagem". Tradução Juan Acúna Lhorens - 3ª ed. - Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
  • Rios, Terezinha Azerêdo - "Ética e competência". In: Questões de nossa época. 16 São Paulo. Cortez Editora, 1999.
  • Vigotsky, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. São Paulo, 6ª Edição. Martins Fontes, 1998.