Resumo

Ter hábitos e um estilo de vida saudável são primordiais na infância, pois podem ser mantidos ao decorrer da vida. A atividade física, baixo tempo de exposição às telas e o tempo adequado de sono são cientificamente comprovados como benéficos à saúde. Porém, nas últimas décadas a diminuição do nível de atividade física, aumento do comportamento sedentário e diminuição do tempo de sono em crianças são evidentes na literatura.

No Brasil crianças entre 6 e 18, 25% das crianças cumprem a diretriz de tempo de tela (não ultrapassem 2 horas por dia em frente às telas), 44% a diretriz de atividade física de (60 minutos diários em AFMV) e 30% a diretriz de sono de (9 e 11 horas) . Alguns estudos verificaram que o não cumprimento das recomendações de comportamento de movimento de 24 horas está associado à maior índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura, pressão arterial e menor aptidão cardiorrespiratória (ACR). O tempo do sono e os hábitos alimentares são aspectos importantes do estilo de vida. Quando insuficiente, o tempo de sono em crianças e adolescentes gera alterações endócrinas e metabólicas.

Estudos realizados em países desenvolvidos investigaram a relação entre aptidão física e desempenho acadêmico em escolares, porém resultados têm sido questionados por uma quantidade de limitações metodológicas, como por exemplo, a falta de padronização das provas. 

Analisar as variáveis do comportamento de 24 horas, que compilam um dia inteiro, unindo esses três pilares, é uma oportunidade para avaliar composições comportamentais comparadas a indicadores de saúde, no caso, aptidão física. Embora haja conhecimento consistente sobre a relação entre as quebras do comportamento sedentário e a atividade física de intensidade leve em adultos, há poucas evidências sobre essa relação em crianças. 

Artigos anteriores com a mesma amostra do presente estudo, verificaram que crianças e adolescentes mostraram que a menor duração do sono está relacionado ao excesso de adiposidade, à má regulação emocional (estresse, ansiedade e sintomas depressivos), ao menor desempenho acadêmico (por exemplo, concentração e memória) e à menor qualidade de vida/bem-estar. 

Segundo Sisson e colaboradores, ter TV no quarto impacta negativamente a saúde. Equipamentos eletrônicos no quarto estão positivamente associados ao aumento da circunferência da cintura, massa gorda, gordura subcutânea e excesso de peso. O estudo também verificou que as meninas que têm TV no quarto apresentam níveis baixos de ACR. 

Todavia não foi estudado até a presente data, unificadamente esses comportamentos em análises em 24h, portanto este artigo teve como objetivo analisar a associação do atendimento das diretrizes de movimento de 24 horas, com a aptidão física em escolares de Ilhabela, São Paulo.

Métodos

Este estudo foi realizado com os dados do Projeto Misto Longitudinal de Crescimento, Desenvolvimento e Aptidão Física de Ilhabela, desenvolvido pelo Centro de Estudos do Laboratório de Pesquisa da Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS), São Paulo, desde 1978. O projeto tem como objetivo, analisar dados referentes à aptidão física (antropométricos, neuromotores e metabólicos), de escolares a partir dos sete anos de idade. As avaliações foram realizadas por profissionais da área da saúde previamente treinados seguindo de acordo com a padronização de testes e medidas do CELAFISCS. Detalhes metodológicos, coleta de dados e informações adicionais foram publicados anteriormente. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) sob Protocolo número 0056/10. Amostra

O estudo teve uma amostra por conveniência composta por escolares de 9 à 11 anos, dos bancos de dados de 2019, 2022 e 2023, além disso, os escolares  pertenciam a uma escola municipal de ensino fundamental. Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: a) ter de 9 a 11 anos de idade; c) obter dados das variáveis de antropométricas e neuromotoras completos; d) ter dados válidos do acelerômetro; e) não ter limitações clínicas ou funcionais para realizar os testes; e f) ter o Termo de Consentimento Informado assinado pelos responsáveis. Após os critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 101 escolares, 62 meninas e 39 meninos.

Comportamento de 24 horas

Para avaliar as intensidades de atividade física, leve, moderada, vigorosa e moderada a vigorosa, foi utilizado o acelerômetro Actigraph GT3X (ActiGraph, Ft. Walton Beach, Estados Unidos). O mesmo foi utilizado com um elástico durante sete dias seguidos, posicionado no quadril na linha axilar média direita e as crianças foram encorajadas a usar o acelerômetro 24 horas por dia, e orientadas a retirar o acelerômetro apenas para atividade aquáticas (banho/piscina/mar). 

O sono foi avaliado por questionário validado anteriormente. olhar ref do ISCOLE sobre os questionários

 

 

Falar Comportamento sedentário por questionário do ISCOLE: tempo de TV, tempo na frente do video game e computador

 Aptidão Física

A aptidão física compreende variáveis antropométricas, neuromotoras e metabólicas. Para este estudo foram utilizadas apenas as variáveis antropométricas e neuromotoras.

As variáveis antropométricas, o peso corporal (kg) foi mensurado por balança digital (Filizola ®, modelo Personal Life). A estatura (cm) foi avaliada por estadiômetro, e posteriormente foi realizado o cálculo do IMC (kg/m2) pela divisão do peso pela estatura ao quadrado. Além disso, foi utilizada uma fita metálica (Cescorf) para mensurar a circunferência da cintura (cm), com posicionamento da fita na posição média entre a última costela e a crista ilíaca; a circunferência de quadril (cm), posicionada na maior porção glútea dos escolares; e adiposidade, pela soma das 7 dobras cutâneas,  dobra bicipital, tricipital, subescapular, axilar média, supra ilíaca, abdominal e panturrilha, por meio de adipômetro (Harpenden®) graduado em milímetros (mm) previamente calibrado. Foram realizadas três medidas e considerada a média de cada variável. Todas as medidas seguiram o protocolo do CELAFISCS, e foram realizadas por profissionais da área de saúde previamente treinados.

Variáveis neuromotoras

A força muscular de membros superiores foi avaliada por meio do teste de preensão manual pelo dinamômetro Takei (Modelo Grip A TKK 5001, Tóquio, Japão). As crianças foram colocadas em posição ortostática, segurando o aparelho na mesma direção ao antebraço. Foram tiradas duas medidas de cada mão alternadas, considerando a melhor execução de ambas segundo a padronização do CELAFISCS.

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