Resumo

O presente estudo teve como objetivo identificar o consumo das práticas de lazer e de bens culturais por parte dos pesquisadores que atuam profissionalmente produzindo conhecimento junto ao LACTEC e refletir sobre as possíveis relações desse consumo com seu estilo de vida, sua atividade profissional, seu ambiente de trabalho e seu perfil. A pesquisa foi caracterizada como um estudo de caso quanti-qualitativo descritivo no qual, por meio de dados numéricos e análises estatísticas descrevemos as características de um determinado grupo e, com base nesses dados, o analisamos sociologicamente. Para tanto, inicialmente fizemos uma revisão bibliográfica que envolve as diferentes visões sobre Consumo, Cultura de Consumo e Sociedade de Consumo. Em seguida, apresentamos uma reflexão teórica sobre o conteúdo e aplicabilidade das ideias de Veblen, Norbert Elias e Eric Dunning em análises que envolvem práticas de esporte e lazer em nossa sociedade. Utilizando questionário e diário de campo, investigamos o perfil do LACTEC, a rotina e os hábitos de lazer de 266 de seus colaboradores e verificamos se há predominância de determinadas práticas de lazer nesse grupo. Conhecendo o grupo como um todo, utilizamos o programa estatístico Epi Info e o teste de Qui-quadrado para compararmos os trabalhadores de acordo com a função que exercem no Instituto considerando significantes as diferenças de proporções para p<0,05. Os pesquisadores, grupo peloqual tivemos maior interesse, foram avaliados nos que diz respeito à sua renda familiar, gênero, idade, grau de escolaridade e às suas práticas de lazer. Imaginamos que a atividade de pesquisa exigisse maior dedicação de tempo dos funcionários que dela se ocupam, mas comparados aos demais, gastam o mesmo número de horas semanais trabalhando e têm o mesmo tempo de férias anuais. Além disso, as horas despendidas às atividades de tempo livre também não diferem do restante do grupo. O número de horas despendidas para o lazer diferencia-se de acordo com o grau de instrução dos pesquisadores e tem como fator determinante a renda familiar. Dentre os cinco tipos de atividades de lazer propostos por Elias e Dunning, as intelectuais são as mais realizadas (62,8%); em segundo lugar ncontram-se as físicas/esportivas (41,1%) seguidas das sociais (36,5%); as artísticas ficaram em quarto lugar (19,4%). Sugerimos também vinte e oito possíveis atividades de lazer. No ranking das dez realizadas com maior frequência, a música, a televisão e os filmes apareceram em primeiro e segundo lugares. A leitura apareceu em terceiro e em quarto o cinema. Em quinto e sexto lugares o futebol e as caminhadas. Em sétimo lugar, os eventos seguidos de idas ao shopping, tocar instrumentos e jogar videogame. Se comparados conforme os gêneros, essas últimas duas são atividades consumidas pelo público masculino. As mulheres preferem dançar, ir ao teatro e jogar os jogos de mesa. A renda familiar dos pesquisadores do LACTEC não influencia na escolha por determinadas práticas de lazer, mas o gênero influencia na escolha por práticas físicas/esportivas; o grau de instrução influencia nas práticas sociais; a função exercida na empresa e o estado civil influenciam nas práticas intelectuais de lazer. Ao avaliar essas respostas, não podemos negar que, hoje, a maioria das atividades de lazer é mediada pelo mercado. E diante de tantas possibilidades, é cômodo consumir o que está facilmente acessível aos nossos desejos. Concluímos que as reações decorrentes das nossas experiências com determinadas práticas e as emoções que evocam, bem como a possibilidade que temos de avaliar se tais reações são satisfatórias, nos levam a querer repetir tais experiências ou não. Disso tiramos, ao menos, duas lições: a primeira é a de que as pessoas não consomem bens e serviços – sempre, apenas ou necessariamente – pelas suas propriedades simbólicas de expressar obtenção e manutenção de um status. A segunda tem a ver com questões de identidade.

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