Resumo
O objetivo deste trabalho é analisar as operações biopolíticas que inserem a construção de corpos belos nos jogos de verdade, à luz da teoria de Foucault. Especificamente procuramos identificar os processos de transformação da beleza em objeto de saber, e discutir as relações de poder que regulam a construção de corpos belos, a partir do discurso de trinta mulheres praticantes de exercício físico em academias de ginástica. O estudo, caracterizado como qualitativo foi realizado em seis academias de ginástica da cidade do Recife selecionadas randomicamente. Utilizamos como instrumento um roteiro de entrevista composto por imagens. Como técnica de análise de discurso, utilizamos a análise de enunciados com base na proposta arqueológica foucaultiana. Percebemos através da investigação arqueológica que a beleza se tornou objeto de saber a partir de políticas eugenistas de combate à fealdade, as quais utilizaram a Educação Física e a ginástica como ferramenta para produção de corpos belos, compreendidos como superiores, dóceis, saudáveis e produtivos. A análise dos discursos permitiu a identificação de dois
dispositivos da beleza atuantes na contemporaneidade: um dispositivo jurídico- funcionalista e um dispositivo bioascético. Identificamos a atuação dos princípios de dimorfismo sexual, de medicalização e normalização da aparência física, os quais atuam criando padrões de aparência, excluindo corpos feios e valorizando socialmente corpos belos. Por outro lado, percebemos que a busca pela produção de corpos belos na atualidade, não é apenas o resultado de um processo histórico de dominação institucional, mas sim uma estratégia assumida pelos sujeitos contemporâneos para produzir poder a partir da construção da sua aparência corporal. O destaque conferido à produção estética do corpo pelas entrevistadas permitiu-nos verificar que a prática de exercício físico não é movida apenas pela saúde, mas sim pelo propósito de ter poder através da beleza. Este poder vinculado à construção estética possibilita dominar a conduta dos outros e reconstituir as posições assumidas pelos sujeitos numa ordem cultural de estetização da vida e de supervalorização do corpo.