Resumo

A suspeição e a recusa da autoridade permeiam os agrupamentos humanos modernos. No entanto, a crise moderna da autoridade não é um fenômeno universal. Na formação dos atletas de alto rendimento competitivo, na modalidade de luta de origem japonesa, chamada Judô, observamos o fenômeno inverso: o regular reconhecimento, pelos aprendizes, da autoridade do sensei (professor). Propomos, neste trabalho, demonstrar que a legitimação do sensei como uma figura de autoridade emerge na construção dos corpos dos judocas, em especial, no cotidiano dos treinamentos que precedem as competições do esporte em tela. Para tal, lançamos mãos das reflexões suscitadas mediante uma experiência etnográfica com jovens aprendizes e senseis vinculados ao Centro de Treinamento Uichiro Umakakeba, situado na região Alta Paulista, no município de Bastos-SP. Em conclusão, destacamos que o ofício de competidor implica uma abertura do judoca às intervenções em seu corpo, aplicadas pelos senseis e parceiros, nos treinamentos. A partir dessa observação, compreendemos que a relação de mando e obediência se legitima na prática esportiva do judô, no processo de fabricação dos corpos dos atletas – o qual consideramos colocar em xeque a concepção de corpo tributária da noção moderna de pessoa como indivíduo, que parecem corrosivas às experiências de autoridade, para além desse específico contexto esportivo.