O corpo feminino e sua estética pelas lentes da imprensa brasileira dos séculos XIX e XX
Por Dayane Ramos Dórea (Autor), Coriolano P. da Rocha Junior (Autor).
Parte de Histórias da Educação Física no Brasil . páginas 19
Resumo
O texto em tela, recorte da pesquisa de doutorado, objetiva trazer uma análise de como a imprensa feminina, para além de conceder lazer e informações, construiu o corpo feminino no cenário social, através da representação da mulher e da sua participação na vida citadina. As revistas femininas brasileiras, intimamente relacionadas ao contexto histórico de cada época, numa união entre moda e literatura, e com um toque de noticiário cultural, tentaram construir um suposto novo horizonte à mulher na sociedade, presente nos primeiros jornais femininos do Brasil do século XIX: “O Espelho Diamantino (1827)” e “O Espelho das Brazileiras (1983)”. Esse século representou um período importante à imprensa feminina brasileira, principalmente pela luta e conquista dos direitos à educação, à profissão e ao voto, elementos importantes da história da mulher na sociedade que constituíram a principal razão para que se criassem os periódicos de mulheres, a exemplo de “A Família” (1890). A imprensa feminina do século XIX representou as possibilidades de transformações inovadoras à época ao permitir um diálogo para/com as mulheres desse século. Sem abrir mão da dualidade literatura-moda, a revista “Voz Feminina”, em 1901, promoveu uma campanha pelo voto feminino e a “Revista Feminina” trouxe pautas a favor dos direitos da mulher, bem como moda, literatura, beleza e cozinha. Sob a lógica operacional de moldar o corpo social da mulher, a década de 1940 foi marcada por revistas femininas que enalteciam a representação da mulher enquanto esposa, dona de casa e mãe, a exemplo da revista o “Jornal das Moças”. Significativas mudanças marcaram a imprensa feminina desde a década de 1950, como o lançamento da revista “Capricho”, em 1952, que se autointitulava como a revista mensal da mulher moderna. Já a revista “Claudia”, nascida em 1961, abordava temas ousados à época, como sexo, aborto, homossexualidade e divórcio, seguindo as características modernas da década, fruto dos processos de industrialização e urbanização que se alargavam pelo Brasil. Nesse contexto, a mulher brasileira já havia sido inserida na sociedade de consumo e, por isso, as revistas do século XX apostavam em matérias, anúncios e propagandas que incentivavam suas leitoras à aquisição de produtos para que cada uma se tornasse parte desse processo de modernização. Destarte, o corpo feminino, pelo viés da imprensa brasileira, foi representado como uma mercadoria da proposta publicitária da sociedade capitalista moderna e contemporânea, promovendo a organização dos gestos, dos gostos e dos comportamentos individuais e sociais, fruto de aprendizagens com os quais os periódicos pretendiam contribuir ao veicular as vantagens do corpo feminino perfeito.