Resumo

A razão entre os valores de produção de força dos músculos flexores (FJ) e extensores (EJ) do joelho é conhecida como relação flexores/extensores (RF/E) e tem sido extensamente investigada e proposta como um indicador de estabilidade da articulação do joelho. Há evidências de que o dano muscular e a fadiga afetam essa relação, quando medida por contrações isométricas, comprometendo a estabilidade do joelho. O mesmo ocorre com o senso passivo de posição (SPP) da articulação do joelho, um importante marcador de propriocepção. O objetivo do presente estudo foi investigar se o dano muscular induzido por uma corrida em declive (CrD) influenciaria a RF/E medida por contrações isocinéticas máximas e o SPP, testando a hipótese de que ambos seriam comprometidos pela atividade danificadora. Doze voluntários adultos do sexo masculino fisicamente ativos participaram do estudo (idade: 22,8 ± 3,1 anos; massa: 80 ± 12,4 kg; estatura: 174 ± 7 cm). Todos realizaram uma CrD (-15%) de 30 minutos de duração a 70% da velocidade do consumo máximo de oxigênio (9,6 ± 1 km.h-1). Marcadores indiretos de dano muscular, como pico de torque isocinético (PTI) dos FJ e EJ, percepção subjetiva de dor (PSD) e amplitude de movimento da articulação do joelho, foram coletados antes, imediatamente depois e nos 4 dias subsequentes à CrD, assim como RF/E e SPP. Alterações temporais nos valores de todos os marcadores coletados foram identificadas por meio de ANOVAs one-way sendo que, quando identificados efeitos significantes do tempo, foram aplicados post hocs de Tukey. O nível de significância adotado foi de p > 0,05. Efeitos significantes de tempo foram identificados apenas para o PTI dos EJ (p = 0,003; F = 4,1) e a PSD (p = 0,001; F = 7,45), sendo que o primeiro apresentou quedas significantes de 22,4%, 19,4% e 18,6% imediatamente, 1 e 2 dias após a CrD, respectivamente, e a segunda apresentou aumentos também significantes de 7,35 cm e 7,63 1 e 2 dias após a CrD, respectivamente. Nenhuma alteração significante ao longo do tempo foi identificada para RF/E, SPP e amplitude de movimento do joelho. Os resultados obtidos demonstram que, de fato, uma sessão de CrD leva a alterações significantes em marcadores de dano muscular (i.e., força e dor muscular). Entretanto, em contraste com estudos que identificaram alterações no SPP após dano muscular induzido por contrações excêntricas máximas, a CrD não afetou o SPP do joelho. Ademais, a RF/E também não se alterou após a CrD. Pode-se notar que, dos músculos envolvidos no cálculo da RF/E, apenas os EJ sofreram dano muscular, por realizarem grande número de contrações excêntricas para realizar a desaceleração do centro de massa durante a CrD, enquanto os FJ apenas atuam excentricamente durante o contato do calcâneo com o solo. Pode-se concluir, portanto, que o dano muscular induzido por uma CrD não afeta o SPP e a RF/E, não aumentando o risco de lesões articulares por instabilidade e diminuição da propriocepção.

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