O Dano Muscular Induzido Por Corrida em Declive Não Compromete a Estabilidade e Propriocepção do Joelho
Por P. C. Guizelini (Autor), J. P. Leopardi (Autor), L. C. R. Lima (Autor), N. M. Bassan (Autor), R. A. C. Caritá (Autor), C. C. Greco (Autor), Benedito Sérgio Denadai (Autor).
Resumo
A razão entre os valores de produção de força dos músculos flexores (FJ) e extensores (EJ) do joelho é conhecida como relação flexores/extensores (RF/E) e tem sido extensamente investigada e proposta como um indicador de estabilidade da articulação do joelho. Há evidências de que o dano muscular e a fadiga afetam essa relação, quando medida por contrações isométricas, comprometendo a estabilidade do joelho. O mesmo ocorre com o senso passivo de posição (SPP) da articulação do joelho, um importante marcador de propriocepção. O objetivo do presente estudo foi investigar se o dano muscular induzido por uma corrida em declive (CrD) influenciaria a RF/E medida por contrações isocinéticas máximas e o SPP, testando a hipótese de que ambos seriam comprometidos pela atividade danificadora. Doze voluntários adultos do sexo masculino fisicamente ativos participaram do estudo (idade: 22,8 ± 3,1 anos; massa: 80 ± 12,4 kg; estatura: 174 ± 7 cm). Todos realizaram uma CrD (-15%) de 30 minutos de duração a 70% da velocidade do consumo máximo de oxigênio (9,6 ± 1 km.h-1). Marcadores indiretos de dano muscular, como pico de torque isocinético (PTI) dos FJ e EJ, percepção subjetiva de dor (PSD) e amplitude de movimento da articulação do joelho, foram coletados antes, imediatamente depois e nos 4 dias subsequentes à CrD, assim como RF/E e SPP. Alterações temporais nos valores de todos os marcadores coletados foram identificadas por meio de ANOVAs one-way sendo que, quando identificados efeitos significantes do tempo, foram aplicados post hocs de Tukey. O nível de significância adotado foi de p > 0,05. Efeitos significantes de tempo foram identificados apenas para o PTI dos EJ (p = 0,003; F = 4,1) e a PSD (p = 0,001; F = 7,45), sendo que o primeiro apresentou quedas significantes de 22,4%, 19,4% e 18,6% imediatamente, 1 e 2 dias após a CrD, respectivamente, e a segunda apresentou aumentos também significantes de 7,35 cm e 7,63 1 e 2 dias após a CrD, respectivamente. Nenhuma alteração significante ao longo do tempo foi identificada para RF/E, SPP e amplitude de movimento do joelho. Os resultados obtidos demonstram que, de fato, uma sessão de CrD leva a alterações significantes em marcadores de dano muscular (i.e., força e dor muscular). Entretanto, em contraste com estudos que identificaram alterações no SPP após dano muscular induzido por contrações excêntricas máximas, a CrD não afetou o SPP do joelho. Ademais, a RF/E também não se alterou após a CrD. Pode-se notar que, dos músculos envolvidos no cálculo da RF/E, apenas os EJ sofreram dano muscular, por realizarem grande número de contrações excêntricas para realizar a desaceleração do centro de massa durante a CrD, enquanto os FJ apenas atuam excentricamente durante o contato do calcâneo com o solo. Pode-se concluir, portanto, que o dano muscular induzido por uma CrD não afeta o SPP e a RF/E, não aumentando o risco de lesões articulares por instabilidade e diminuição da propriocepção.