Editora . Portugal 2018. 256 páginas.

Sobre

Recorrendo a uma bibliografia enorme sobres as áreas científicas do desporto, o autor, socorrendo-se de factos concretos, analisa vários binómios do desporto (o óptimo e o péssimo existentes no mesmo, a vitória e a derrota, os valores e os contra-valores), sempre numa perspectiva ética.

Logo na introdução são definidos os quatro tipos de discursos existentes no desporto (dos jogadores, treinadores e outros agentes desportivos, dos homens das Ciências do Desporto, dos consumidores do espectáculo desportivo e, por fim, o discurso dos mass media), é apresentada a mercantilização desportiva e alguns dos alertas feitos há muito por alguns especialistas demonstrando-se que temos pensado no desporto sem o pensar.

Na primeira parte desta obra define o conceito de desporto, equaciona as características de um desporto pós-moderno e apresenta a existência do fosso entre os ideais proclamados por este e a realidade visível no espectáculo desportivo. Mostra ainda que no mesmo já não é só o recorde em termos de medida que é glorificado, mas um sem número de outros recordes, concluindo que no desporto tudo é quantificável. Aborda também o facto de o desporto estar a caminho do seu mais alto grau de entropia assim como as ligações deste à televisão e vice-versa, a sponsorização de clubes e de eventos internacionais por parte de grandes empresas, as avultadas transferências e contratações de jogadores e a movimentação de enormes quantias de dinheiro.

Na segunda parte justifica como as regras desportivas podem ser violadas em benefício próprio, segundo as conveniências, e como no desporto toda a lei é contornável…

De seguida, e recorrendo a Sartre, o autor interroga-se: em termos desportivos, o que fazemos do que fizeram de nós? São então apresentados os mitos que envolvem o desporto, as mistificações do olimpismo, os inúmeros paradoxos existentes no desporto – em termos organizativos, formativos competitivos e éticos –, começando-se a vislumbrar a hipocrisia existente neste e a forma como somos manipulados. Um capítulo consagrado a Cristiano Ronaldo mostra como um ídolo possui pés de barro e de que modo as nossas opiniões sobre o desporto são formatadas pelo marketing e pelos mass media, após o qual se desmistifica e se demonstra como os limites afinal não são superáveis (J. O. de Los Angeles 1984, todos se lembram de Gabrielle Andersen-Scheiss mas ninguém se recorda da vencedora da maratona: Joan Benoit) terminando esta terceira parte com a comprovação que, de facto, somos manipulados nas nossas opiniões sobre o fair play, a verdade desportiva e o amor à camisola, tendo sido em nós criadas crenças que temos a tendência de reproduzir.

Na quarta parte é estabelecido um quadro teórico sobre a axiologia do desporto, salientando-se os valores e contra-valores, assim como sobre a ética e a moral no desporto e as virtudes que o mesmo encerra.

Casos exemplares de desportistas com valores, sob diferentes perspectivas, são apresentados na quinta parte deste livro.

A ambivalência do desporto, realçando a dicotomia entre o aspecto formativo do mesmo e a sua mercantilização, remete-nos para as suas perversidades: acidentes de morte e morte súbita; lesões vitalícias, abandonos precoces e fim de carreiras; mortes enigmáticas e suicídios; doping; treino intensivo precoce e exploração infantil; corrupção; fraude; violência; e, por último, a ingerência da política no desporto e… do terrorismo.

As ambiguidades do desporto, a existência de dilemas e de mitos no mesmo, conduzem-nos para os motivos por que são difíceis os valores éticos no desporto na sétima parte.

A conclusão evidente de que o desporto se encontra debaixo de fogo é explanada na última parte, mostrando-nos a tendência evolutiva do mesmo num futuro próximo.

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