Resumo

Considerando as oportunidades desiguais cotidianas e as oportunidades vivenciadas no espaço escolar, observei que as diferenças entre meninos e meninas podem tornar as corporeidades generificadas. Preocupando-me com a intervenção pedagógica da Educação Física, este trabalho focaliza os discursos revelados por meninas da 7ª série do Ensino Fundamental, sobre os critérios de seleção utilizados para suas participações nas aulas de Educação Física. A partir deste problema, questiono: (1)Quais evidências discursivas demonstram o pensamento das meninas sobre os critérios de seleção utilizados nas atividades das aulas de Educação Física? (2)As alunas sentem-se excluídas e/ou desestimuladas nas aulas, a partir da percepção de que as oportunidades são iguais, mas com ritmos de aula ditados pela habilidade masculina? (3)Como os critérios de seleção são utilizados para a participação de meninas(os) nas aulas de Educação Física? O objetivo geral do trabalho foi mapear as opiniões das escolares de 7ª série sobre os critérios de seleção utilizados nas aulas mistas de Educação Física, além de verificar até que ponto as meninas percebem as diferenças de habilidades, as diferenças psicológicas e as diferenças físicas nas suas relações com os meninos(as) como fatores intervenientes para sua participação nas aulas. A resposta científica a esses questionamentos pode vir a subsidiar as discussões sobre os comportamentos de intervenção dos profissionais sobre as formas de participação dos(as) alunos(as) e revelar pistas para novos estudos na área de Gênero e Educação Física Escolar. Este estudo, de abordagem qualitativa, utilizou-se da técnica de entrevistas semi-estruturadas para captar o discurso de doze alunas de quatro escolas da rede pública municipal da cidade do Rio de Janeiro. De acordo com observações registradas no diário de campo, a participação das informantes da pesquisa nas aulas foi sintetizada em três tipos de comportamento: Perfil A – alunas mais habilidosas, que gostavam de jogar e sabiam praticar as atividades; Perfil B – alunas esforçadas, que alteram manifestações de esforço e de indiferença face as atividades; Perfil C – alunas menos habilidosas, que não são valorizadas pelas colegas e por isso não gostam de praticar as atividades. Como resultado da pesquisa, verifiquei que as aulas que deveriam ser mistas não estão acontecendo, pois as professoras separam meninos e meninas para realizar as atividades, impedindo o surgimento de conflitos e conquistas nesse tipo de relação social. E a análise do discurso das alunas revelou que as formas de seleção utilizadas pelas meninas para participar das aulas de Educação Física são a habilidade e a amizade, voltadas para a busca de performance, em que vencer é mais importante que aprender os conteúdos. Revelou também que as aulas de Educação Física não vêm agradando a qualquer dos perfis estudados: as meninas do Perfil A gostariam de se socializar com os meninos através do futebol, as meninas do Perfil B gostariam de se socializar mais com as habilidosas através de jogos institucionalizados, as meninas do Perfil C gostariam de, no mínimo, ser percebidas pelos colegas, para talvez vivenciar atividades cooperativas.

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