Resumo

Com o objetivo de analisar a circulação do ’significante adolescência’ no discurso pedagógico, bem como os efeitos provocados por ela na prática pedagógica e educacional, essa pesquisa foi realizada em duas etapas complementares. Primeiramente, por meio da ’desconstrução’ do conceito atual de adolescência, buscamos identificar - historicamente a produção e o estabelecimento do conceito de adolescência, como resultado dos ’saberes’ médicos e psicológicos do final do século XIX e começo do século XX, e da apropriação desses fundamentos ’cientificos’ pelo imaginário social. Para isso, embasamo-nos em estudos de teóricos que possibilitaram pensar a história do ’conceito’ de adolescência em termos de continuidade e descontinuidade, como por exemplo, E. Hobsbawn, P. Aries, G.Levi & J.C. Schmitt e outros. E, na segunda etapa, por meio de dois instrumentos de pesquisa, buscamos identificar, no discurso pedagógico, a circulação do ’significante adolescência’ e os efeitos provocados pela movimentação desse significante na prática pedagógica. Um método foi a análise de entrevistas semi-estruturadas realizadas com professores de adolescentes, e o outro, a categorização e análise de textos das revistas Nova Escola e Educação (período de janeiro de 2000 a junho de 2006) que abordam o tema adolescência. Para analisar os dados, recorremos à teoria psicanalítica, pois tal teoria possibilita pensar sobre a educação para além da Pedagogia, sobre a especificidade da relação educativa e sobre o encadeamento significante. Tratamos desse assunto em tomo do eixo teórico da conexão entre Psicanálise e Educação. Nesse sentido, embasamos essa análise nos estudos de autores como S. Freud, J. Lacan, B. Fink, S. Lesourd, M. Mannoni, L. Lajonquiere, M.C. Kupfer, M.C.C.C. Souza, entre outros. A partir disso, observamos que a circulação do significante adolescência, no discurso pedagógico, se dá a partir de uma ’Iamentação’ sistemática sobre a "impossibilidade" para a educação dos adolescentes, submetendo os professores a certa ’desorientação’, o que provoca a busca por mais conhecimento sobre a ’adolescência’. Nessa busca, os professores, comumente, encontram ’explicações’ sobre o que é a adolescência e ’prescrições’ para sua educação, oriundas, normalmente, do campo da Psicologia, e que alimentam o conceito de adolescência no imaginário pedagógico. Nesse sentido, concluímos que a impossibilidade para a educação dos adolescentes está relacionada a movimentação do significante no discurso pedagógico, pois ’demite-se do ato educativo’ em nome de um ’conceito de adolescência’ que faz surgir técnicas específicas para a educação dos adolescentes.

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