Resumo

Segundo o fenômeno de aprendizagem conhecido como o efeito da interferência contextual (EIC), a prática variada aleatória (abcbcacbabac) propicia melhor aprendizagem em comparação com a prática variada em blocos (aaaabbbbcccc). Entretanto, nem todas as pesquisas confirmaram totalmente o EIC, indicando a existência de alguns pontos obscuros no entendimento do fenômeno. O objetivo do presente estudo foi verificar se o EIC é um fator duradouro, temporário ou inexistente. Para tanto, o número de tentativas nos testes de transferência foi elevado, permitindo uma análise prolongada das curvas de desempenho dos grupos experimentais. Trinta e seis alunas de 12 a 14 anos foram distribuídas em dois grupos de prática variada em função dos resultados do pré-teste: grupo aleatório (GA) e grupo em blocos (GB). As tarefas de aquisição foram os saques por baixo e por cima e a tarefa de transferência foi o saque japonês. O delineamento experimental constou de quatro fases: pré-teste (8 tentativas), fase de aquisição (288 tentativas), fase de transferência (84 tentativas) e fase de retenção da transferência (12 tentativas). As análises de variância two-way com medidas repetidas 2X12 (aquisição) e 2X8 (transferência) mostraram que houve diferença significante apenas para o fator "bloco" tanto na aquisição (p=0,00) quanto na transferência (p=0,01). As diferenças significantes na aquisição foram detectadas entre os blocos 2 e 4 (p=0,03) no GA, e entre os blocos 2 e 11 (p=0,00) no GB. A única diferença verificada na transferência foi entre os blocos 1 e 7 (p=0,05) no GB. Os resultados evidenciam a inexistência do EIC uma vez que não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre os dois grupos em nenhum bloco do experimento (fator "grupo" com p=0,70 na aquisição e p=0,92 na transferência). Portanto, no processo de aprendizagem de saques do voleibol em crianças, a prática variada aleatória é equivalente à prática variada em blocos.