Resumo

Comentário sobre a saída da Ministra Ana Moser.

 

Integra

Não lembro de uma troca de ministro do Esporte tão comentada e indignada quanto a recente saída de Ana Moser, para dar lugar ao deputado André Fufuca (PP/MA). Atleta olímpica e experiente gestora de projetos esportivos, ela deixa o Ministério carregando um grande patrimônio, que é o valioso apoio recebido da comunidade esportiva nacional.

Mulher capacitada

Ana Moser chegou ao Ministério reconhecida por seus serviços ao setor, que convive há anos. Ainda na campanha de 2022, ela participou de um memorável encontro de Lula com a comunidade esportiva, em São Paulo. Discursos, promessas, aplausos... Na ocasião, o então candidato se comprometeu, se eleito, dar rumos confiáveis ao esporte nacional. Agora, oito meses depois de ter valorizado a mulher e prestigiado a categoria do atleta, em geral, o presidente a descarta de forma grosseira, sem qualquer agradecimento público. E tudo por exigências de um partido político, o  Progressista, que ainda há pouco dormia de conchinha com o governo Bolsonaro.

Credenciais indispensáveis

Ana Moser não tem filiação partidária nem convivência política, mas isso era do conhecimento de Lula, que avançou na escolha. Porém, a realidade é que sem essa e outras credenciais as excelências do Parlamento não perdoam e pedem o cargo. E ai daquele presidente que ousar não atender a deputados e senadores: os seus projetos emperram, não são votados e o governo acaba antes do tempo. É exatamente assim.

É dando que se recebe

Portanto, Lula chegou ao ato extremo da demissão imposto pelo sistema político, há muito viciado e corrupto na troca de favores. Estranhamente, é uma prática que tira do presidente da República o direito da livre escolha de seus assessores mais diretos. Pior! Um sistema que impõe a qualquer presidente nomes que, adiante, poderão estar no noticiário policial, numa prática tristemente real e que se tornou rotineira. Mesmo assim, continuam aplicando, por linhas tortas, o princípio de São Francisco, “é dando que se recebe”. Em outras palavras, ofereço o cargo ministerial em troca de votos em plenário. Sem exageros, é a ditadura do Legislativo sobre o Executivo.

Dois exemplos

            A saída de Ana Moser para a entrada de um desconhecido nome no esporte e sem qualquer compromisso com o setor sugere recuperar dois fatos ocorridos na mesma pasta. Vamos a eles.

Em maio de 2016, o deputado federal Leonardo Picciani assumiu o Ministério do Esporte, nomeado pelo então presidente Michel Temer, em troca de apoio do PMDB. Apaixonado por “bikes”, Picciani foi ao Catar, com oito servidores, para acompanhar o Campeonato Mundial de Ciclismo de Estrada. A viagem da excelência foi apenas isso, um passeio custeado pelo cofre público. Não resultou em qualquer projeto ou melhoria da modalidade. Alguém lembra que Leonardo Picciani foi ministro do Esporte? Alguém lembra desse passeio ministerial ao Catar?

Especialista em pessoas

Outro caso: em 2014, o então deputado federal George Hilton (PRB) foi nomeado ministro do Esporte pela então presidente Dilma Rousseff, em substituição a Aldo Rebello. Na posse, Hilton afirmou que não entendia de esporte, mas entendia de “pessoas, de gente”... Ele era pastor da Igreja Universal. E foi assim que tivemos mais um parlamentar com passagem inexpressiva pela pasta, sem deixar lembranças do que fez de positivo para o setor. Esses dois casos são exemplos de como o esporte é tratado ao longo dos governos que se sucedem. Tristemente perde-se dinheiro e tempo e desmoraliza-se o setor.