Integra
31/1/2013
A 18 de outubro de 1951, o Comité Olímpico Português (COP) enviou um ofício ao Varzim Football Clube pedindo-lhe para retirar os anéis olímpicos que o clube tinha no seu campo de jogos. Dizia o ofício que o emprego dos anéis "estava condenado por Despacho de 7 de dezembro de 1949, de sua Excelência o Ministro da Educação (publicado no DG, II S. de 19-12-49). Claro que os dirigentes do Varzim Football Clube deram a "máxima importância" ao ofício do COP. A 11 de fevereiro de 1952, o COP foi obrigado a escrever novamente para o clube solicitando uma resposta.
Quer dizer, o ofício do COP não conseguiu amedrontar os dirigentes do Varzim Football Clube com o tal Despacho do Ministro que, bem vistas as coisas, não tinha sido exarado pelo Ministro mas tão só pelo Subsecretário de Estado da Educação Nacional. Mas isso era o que menos interessava. José Pontes, ao tempo presidente do COP e membro do Comité Olímpico Internacional (COI), munido do seu "despachozinho", partiu para a Sessão de Oslo do COI, a fim de mostrar serviço. E os membros do COI ficaram a saber que, em Portugal, quem se atrevesse sequer a pronunciar a palavra olímpico, estava debaixo da alçada da lei.
Tal como agora, na ausência de ideias, os dirigentes obrigavam o Governo a publicar leis.
Entretanto, a 27 de março de 1952, o Presidente do Varzim Football Clube lá respondeu ao COP. E disse: "o motivo alegórico que temos afixado na fachada central do nosso Estádio, não é de forma alguma o distinto ou emblema olímpico. Pela fotografia que juntamos, extraída daquele motivo, facilmente esse Ex.mo Comité pode verificar que é composto por um facho - o facho olímpico - e pelos anéis olímpicos."
Diziam ainda os dirigentes que se inspiraram em semelhante desenho que se publicava a encimar as notícias desportivas no Diário do Norte. E concluíram: "V. Ex. dignar-se-á, portanto, dizer-nos, depois de analisada a fotografia que juntamos, se devemos ou não mantê-lo, na certeza de que, dada a hipótese, aliás inesperada de se persistir na ideia de nos obrigar a retirá-lo, destruiremos os ‘anéis’ mas manteremos o ‘facho’ que deixará de ser o facho olímpico, para ser apenas, muito simplesmente e humildemente, o "facho da liberdade. Com os nossos melhores cumprimentos..."
Depois, alguém do COP despachou da seguinte maneira: "... insistir de acordo com o despacho ministerial e tratar do Diário do Norte". E lá seguiram mais ofícios a perturbar a pacatez do desporto nacional.
A conclusão desta estória ainda está por fazer na medida em que os anéis e o facho olímpicos, passados que estão mais de sessenta anos, continuam firmes na fachada da liberdade do Estádio do Varzim Football Club. E, não acreditamos que, com o seu ridículo articulado, o Decreto-Lei 155/2012 tenha força para os tirar de lá. E ainda bem...