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 Questionamentos


 O que é motivação? O que faz uma pessoa sentir-se motivada para uma determinada atividade e não para outra? E, por que isto ocorre? Que variáveis influenciam na motivação de uma pessoa? Por que a motivação é tão importante para que ocorra a aprendizagem, em particular a motora?


 Todas estas foram questões que por muito tempo ficaram não respondidas para mim. Ao longo de minha prática pedagógica, em colégios das redes pública estadual e particular de educação, mais elas me instigaram e mais me impeliram a buscar as possíveis respostas.
Presentes neste trabalho estão as que eu encontrei por hora. Entretanto, muitas outras questões surgiram no decorrer deste processo de esclarecimento das primeiras; como aquelas sobre os diferentes tipos de memória relacionadas à aprendizagem, os mecanismos de atenção e de concentração, entre outras; porém tais ficarão para um outro oportuno momento.


 Definição de termos


 Entendendo a necessidade primária de uma definição dos termos supra citados, inicio com a própria.
A palavra ‘motivação’ origina-se do termo motivo, que por sua vez tem sua origem do latim ‘motivus’ (que move). Segundo Evans (1986, p.76), motivo significa "alguma força interior, impulso, intenção que leva o indivíduo a fazer algo ou agir de uma certa forma".
No Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986) encontra-se a seguinte definição para o termo motivo, "que pode fazer mover; que causa ou determina alguma coisa"; e, para o termo motivação a definição é a seguinte: "Conjunto de fatores psicológicos (conscientes e inconscientes) de ordem fisiológica, intelectual ou afetiva, os quais agem entre si e determinam a conduta de um indivíduo".


 Magill (1984, p.239) define motivação como "as causas do início, da manutenção e da intensidade de comportamento". A partir desta pode-se ter idéia da sua representatividade em qualquer situação de ensino-aprendizagem.
Falando em aprendizagem, urge definir-se tal conceito para que seja possível posteriormente conceituar-se aprendizagem motora. Thomas (1983, p.83) diz que aprendizagem pode ser definida como "uma alteração relativamente duradoura de possibilidades de comportamento através da experiência".


 Segundo Schmidt (1993, p.53) aprendizagem motora é "um conjunto de processos associados com a prática ou a experiência, conduzindo a mudanças relativamente permanentes na capacidade para executar performance habilidosa".
Para que aconteça o aprendizado é necessário que o indivíduo selecione qual a resposta adequada para determinado estímulo. A aprendizagem advém, basicamente, do processamento de informações, que pode ser entendido através dos mecanismo de percepção, de decisão e de programação; fenômeno que também ocorre na aprendizagem motora.


 A teoria do processamento de informações da aprendizagem


 Existem diversos modelos explicativos do processamento de informações. O modelo geral do processamento de informação (Schimdt, 1993, p.49) estabelece os seguintes componentes: 1) estímulos externos (input); 2) mecanismos de percepção; 3) mecanismo de processamento; 4) mecanismo gerador de resposta (de decisão); 5) resposta (output / mecanismo efetor); e 6) feedback (retro-informação). A aprendizagem pode, então ser entendida como um mecanismo intrínseco do ser humano, onde existem etapas que devem ser percorridas para que aconteça o aprendizado.


 Primeiramente, existem os estímulos do meio ambiente, que devem propiciar um campo fértil para a aprendizagem; através da captação desses estímulos o indivíduo faz contato com o exterior, ou seja, ele percebe os ‘sinais’ que são enviados pelas coisas que o cercam. O mecanismo de processamento é que promove o desmembramento e a decodificação dos estímulos anteriormente percebidos; e, a partir deste, há a elaboração das possíveis respostas e a tomada de decisão. Quando este fenômeno acontece, o indivíduo está pronto para, efetivamente, responder aos estímulos; tal resposta poderá ser dada através da execução de tarefas motoras, no caso de uma situação de aprendizagem motora.


 O indivíduo ao encontrar-se em uma situação de aprendizagem percorre todo este trajeto para o entendimento dos novos conhecimentos; também a aprendizagem de habilidades motoras acontece observando este processamento de informações e, neste caso, o sistema muscular aparece como principal agente do mecanismo efetor.


 Numa relação de aprendizagem existe um número elevado de variáveis que tem influência efetiva em todo o processo. Pode-se citar a maturação fisiológica do indivíduo, o mecanismo de atenção e a motivação. Sendo esta última de extrema relevância no processo de aprendizagem tanto cognitiva, quanto motora.


 Motivação e aprendizagem motora


 A motivação participa do processo de aprendizagem motora como sendo um dos fatores que mais o influenciam. Ela integra este modelo de processamento de informações como um catalisador da captação dos estímulos, possibilitando uma velocidade, intensidade e, mesmo, permanência maiores de retenção dos conhecimentos apreendidos no processo de aprendizagem.


 No processo pedagógico de uma habilidade motora, a questão da motivação tem uma presença de extrema relevância, a medida que o aluno necessita de estímulos contínuos que facilitem a aprendizagem. Dentre estes estímulos estão os motivacionais, que têm o papel de estimular e criar uma expectativa à respeito do conhecimento que, por ventura, será aprendido.


 Dweck (1986, p.1041) fala que para que se realize a motivação, ou seja, para que o aluno esteja motivado, é necessário o aumento gradativo das competências que se daria através da introdução de um novo elemento (novo estímulo) a cada diferente momento da aprendizagem.


 A motivação é um fenômeno intrínseco pelo qual o indivíduo escolhe uma atividade e não outra, e pelo qual realiza ações com graus variados de intensidade. Os motivos que conduzem uma pessoa advém das suas necessidades. Cratty (1984, p.37) descreve uma lista chamada ‘lista de necessidades de Murray’, onde são indicados determinados ítens (carências pessoais) e suas correlatas condutas em situações esportivas. Exemplificando, a busca pelo sucesso apresenta-se de maneira reincidente como uma carência do ser humano e Cratty (1984, p.45) corroborando esta idéia escreve que "o sucesso em determinado esporte terá probabilidade de promover motivação interna, independente de outros motivos externos presentes".


 Outro exemplo procedente seria a procura pelo prazer, outra constante necessidade do ser humano, onde a ludicidade apareceria como um modo de suprir tal carência e como fator motivacional na aula de educação física. Werneck (1997, p.108) diz que: "A vivência lúdica do esporte fala do prazer em participar das ações construídas, coletivamente por todos aqueles que se colocam em jogo".
O fator motivação é de fundamental importância na aprendizagem motora da criança, pois nesta fase a atenção e a concentração têm uma duração e constância muito pequenas. A criança tem um padrão elevado de dispersão da atenção, portanto é essencial a utilização de estímulos motivacionais que auxiliem no aumento e na manutenção da concentração para uma conseqüente melhoria do aprendizado das habilidades motoras.


 Como escreve Colpas (1999, p.46) a respeito da importância didática da reflexão e da discussão sobre o tema da aula: "... nada melhor do que ouvi-los (os alunos) naquilo que têm a dizer. Confiamos ser este elemento pedagógico um fator de grande motivação inicial para as aulas de Educação Física na escola". Ou seja, o diálogo e a contextualização dos conteúdos pedagógicos podem ser um mote para a motivação do alunado.


 Feijó (1992, p.147) explana sobre o processo motivacional, dizendo ser este "a função dinamizadora do treinamento, da aprendizagem. As motivações brotam de nossas necessidades: sejam elas físicas, espirituais, sociais". A medida que se conhece as necessidades dos alunos, pode-se produzir estímulos na aula de Educação Física que propiciem suprir estas eventuais carências, isto é, de fato, motivá-los a prática das atividades propostas.

 Considerações finais


 Os motivos, de onde provém a motivação, são decorrentes de fontes externas ao indivíduo e à tarefa ou derivam da estrutura psicológica e de suas necessidades pessoais. Destarte, quanto mais o professor de Educação Física ou treinador conhecer seu alunado, suas necessidades e seus motivos, maiores serão os recursos que ele terá em favor da mediação no processo ensino-aprendizagem.
Faz-se necessário ao longo do processo pedagógico, o estabelecimento de um ambiente que propicie a captação e armazenamento das informações novas ali obtidas, para a elaboração das respostas aos estímulos percebidos. Sendo condição ‘sine qua non’ para a ocorrência deste fenômeno a contínua estimulação da motivação.


 Para que o aprendizado motor aconteça de maneira equilibrada e profícua é imprescindível que o aluno esteja rodeado por um ambiente facilitador, que o permita conhecer o maior número possível de possibilidades de execução dos movimentos nas suas mais variadas formas.


 Entendendo que cada um tem suas próprias necessidades e seus próprios anseios, o professor de Educação Física será capaz de motivar seu aluno, permitindo que ele também esteja internamente ‘preparado’ e, desta maneira, favorecendo todo processo de ensino-aprendizagem.


 Notas


A autora é Mestranda em Ciências do Desporto (UERJ)

 Referências bibliográficas

Colpas, Ricardo D. Educação física escolar: a construção de um conceito. In: Anais do I
Congresso Regional Sudeste do C.B.C.E., Campinas: Unicamp, p.44-48, 1999. Cratty, B. J. Psicologia no esporte. Rio de Janeiro: Prentice-hall do Brasil, 1984.
Dweck, Carol S. Motivational processes affecting learning. In: American Psychologist,
Usa, University of Illinois, American Psysichological Association: vol.41, n.10, p.1040 -1048,october, 1986.
Evans, P. Motivação. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1986.
Feijó, Olavo G. Corpo e movimento - uma psicologia para o esporte. Rio de Janeiro: Shape
Editora, 1992.
Magill, R.A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Editora Edgard
Blucher, 1984.
Novo dicionário Aurélio da Língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986.
Schimdt, Richard A. Aprendizagem e performance motora - dos princípios à prática.
São Paulo, Editora Movimento, 1993.
Thomas, Alexander. Esporte: introdução à psicologia. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1983.
Werneck, Christianne L. G. A criança e o esporte: o lúdico como proposta. In: Revista
Brasileira de Ciências do Esporte, Florianópolis: v.18 , n.2, p.103-110, janeiro 1997.