Resumo

   Durante a última campanha presidencial, após vitória em partida válida pelo campeonato mundial de seleções, dois jogadores da seleção brasileira de voleibol foram fotografados e filmados mostrando os dedos que, somados, totalizavam o número 17, o registro eleitoral do candidato de sua preferência, ou seja, Jair Bolsonaro. E qual foi a reação da Confederação Brasileira de Voleibol? Disse ser contra qualquer tipo de manifestação discriminatória, mas permitiu que a foto fosse compartilhada em suas redes sociais. Em seguida, no entanto, após repercussão da foto, apagou-a de seu perfil do Instagram e afirmou não compactuar com manifestações politicas. Disse, ainda, não ter como controlar posicionamentos individuais, mas que tomaria providências para que manifestações políticas coletivas não acontecessem.  

Vale ressaltar, então, que os jogadores vestiam o uniforme da seleção brasileira. Usaram o uniforme e o evento em que representavam nosso país para fazer campanha por seu candidato. Não foram punidos por isso. Por um breve tempo foram, inclusive, contemplados em sua campanha, em uma rede social da própria CBV.

Mês passado, dia 20 de setembro de 2020, a jogadora de Voleibol de Praia, Carol Solberg, após conquistar medalha de bronze na primeira etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia dava entrevistas a um canal esportivo quando, após a fala da sua parceira, pegou o microfone e gritou “Só para não esquecer: Fora Bolsonaro!”. E qual foi a reação da Confederação Brasileira de Voleibol? De absoluta indignação. Por meio de uma nota de repúdio, repreendeu duramente a atleta, inclusive, afirmando que tomaria as medidas cabíveis contra ela, uma vez que, segundo a entidade, eventos esportivos não podem ser utilizados para manifestações de cunho político.

Pesos e medidas não poderiam ser mais diferentes. Quando, durante a campanha eleitoral para a presidência da República, um número significativo de astros do Voleibol brasileiro, representando o Brasil em um torneio, vestindo o uniforme da seleção, fizeram campanha aberta para o candidato Jair Bolsonaro, a CBV calou-se e posicionou-se somente após a repercussão das manifestações. Seu silêncio foi significativo, dando razão a quem supôs que a entidade declarava sua preferência política. Quando uma atleta de Voleibol, que não representava a seleção brasileira, manifestou-se contra, não o candidato, mas o presidente, a Confederação indignou-se. Lembramos que o gesto dos jogadores da seleção brasileira foi feito durante a campanha, foi um gesto de campanha a favor do candidato Jair Bolsonaro, e isso foi aceito com tranquilidade pela CBV.

Hoje, dia 06 de outubro, a atleta será julgada (se o julgamento não for adiado) pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) em virtude de tal pronunciamento. No episódio que envolveu atletas da seleção masculina de voleibol, o que fizeram? Nada! 

A reação da CBV teve o apoio da comissão dos atletas de Vôlei de Praia, comissão que é liderada por Emanuel Rego, que teve cargo importante no governo Bolsonaro e atualmente disputa a vice-presidência do COB. Ou seja, nem mesmo daqueles que deveriam proteger os atletas, podemos esperar algo.

O que podemos supor a partir da análise de condutas distintas da CBV e do STJD para casos semelhantes? Que as entidades possuem uma preferência política e atos de manifestação política só são permitidas quando lhes convém? Ou ainda, o que nos levaria a outro debate, também de super importância, de que homens podem se manifestar e mulheres não.  

Adotar pesos e medidas para situações semelhantes já é um problema. Mas há outro! Afinal, o que pensar sobre a privação da liberdade de expressão de atletas? O que pensar sobre a sublimação da necessidade e importância de termos atletas, protagonistas desta prática social chamada Esporte, posicionando-se e manifestando-se criticamente sobre a política brasileira e sobre a política esportiva?

E antes que nos digam que o regulamento da competição impede esse tipo de manifestação, há leis superiores que dizem o contrário, tal qual nossa própria constituição federal, especificamente em seu artigo 5º.

Afinal, a CBV é bolsonarista ou não? Se não podemos afirmar isso, podemos supor, com base no tratamento dado pela entidade ao episódio dos jogadores da seleção masculina que fizeram campanha para Bolsonaro em evento oficial comparativamente ao tratamento dado à atleta Carol Solberg, que sim.

Carol Solberg não pode se manifestar contra um político que, na visão dela, faz mal ao país. A CBV, de seu lado, ainda não deu respostas satisfatórias às denúncias feitas pelo Ministério Público nos últimos anos. Carol tem o direito de se manifestar politicamente, a CBV não tem o direito de deixar no ar dúvidas quanto ao manejo que faz das verbas que administra.

Integra

Durante a última campanha presidencial, após vitória em partida válida pelo campeonato mundial de seleções, dois jogadores da seleção brasileira de voleibol foram fotografados e filmados mostrando os dedos que, somados, totalizavam o número 17, o registro eleitoral do candidato de sua preferência, ou seja, Jair Bolsonaro. E qual foi a reação da Confederação Brasileira de Voleibol? Disse ser contra qualquer tipo de manifestação discriminatória, mas permitiu que a foto fosse compartilhada em suas redes sociais. Em seguida, no entanto, após repercussão da foto, apagou-a de seu perfil do Instagram e afirmou não compactuar com manifestações politicas. Disse, ainda, não ter como controlar posicionamentos individuais, mas que tomaria providências para que manifestações políticas coletivas não acontecessem.  

Vale ressaltar, então, que os jogadores vestiam o uniforme da seleção brasileira. Usaram o uniforme e o evento em que representavam nosso país para fazer campanha por seu candidato. Não foram punidos por isso. Por um breve tempo foram, inclusive, contemplados em sua campanha, em uma rede social da própria CBV.

Mês passado, dia 20 de setembro de 2020, a jogadora de Voleibol de Praia, Carol Solberg, após conquistar medalha de bronze na primeira etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia dava entrevistas a um canal esportivo quando, após a fala da sua parceira, pegou o microfone e gritou “Só para não esquecer: Fora Bolsonaro!”. E qual foi a reação da Confederação Brasileira de Voleibol? De absoluta indignação. Por meio de uma nota de repúdio, repreendeu duramente a atleta, inclusive, afirmando que tomaria as medidas cabíveis contra ela, uma vez que, segundo a entidade, eventos esportivos não podem ser utilizados para manifestações de cunho político.

Pesos e medidas não poderiam ser mais diferentes. Quando, durante a campanha eleitoral para a presidência da República, um número significativo de astros do Voleibol brasileiro, representando o Brasil em um torneio, vestindo o uniforme da seleção, fizeram campanha aberta para o candidato Jair Bolsonaro, a CBV calou-se e posicionou-se somente após a repercussão das manifestações. Seu silêncio foi significativo, dando razão a quem supôs que a entidade declarava sua preferência política. Quando uma atleta de Voleibol, que não representava a seleção brasileira, manifestou-se contra, não o candidato, mas o presidente, a Confederação indignou-se. Lembramos que o gesto dos jogadores da seleção brasileira foi feito durante a campanha, foi um gesto de campanha a favor do candidato Jair Bolsonaro, e isso foi aceito com tranquilidade pela CBV.

Hoje, dia 06 de outubro, a atleta será julgada (se o julgamento não for adiado) pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) em virtude de tal pronunciamento. No episódio que envolveu atletas da seleção masculina de voleibol, o que fizeram? Nada! 

A reação da CBV teve o apoio da comissão dos atletas de Vôlei de Praia, comissão que é liderada por Emanuel Rego, que teve cargo importante no governo Bolsonaro e atualmente disputa a vice-presidência do COB. Ou seja, nem mesmo daqueles que deveriam proteger os atletas, podemos esperar algo.

O que podemos supor a partir da análise de condutas distintas da CBV e do STJD para casos semelhantes? Que as entidades possuem uma preferência política e atos de manifestação política só são permitidas quando lhes convém? Ou ainda, o que nos levaria a outro debate, também de super importância, de que homens podem se manifestar e mulheres não.  

Adotar pesos e medidas para situações semelhantes já é um problema. Mas há outro! Afinal, o que pensar sobre a privação da liberdade de expressão de atletas? O que pensar sobre a sublimação da necessidade e importância de termos atletas, protagonistas desta prática social chamada Esporte, posicionando-se e manifestando-se criticamente sobre a política brasileira e sobre a política esportiva?

E antes que nos digam que o regulamento da competição impede esse tipo de manifestação, há leis superiores que dizem o contrário, tal qual nossa própria constituição federal, especificamente em seu artigo 5º.

Afinal, a CBV é bolsonarista ou não? Se não podemos afirmar isso, podemos supor, com base no tratamento dado pela entidade ao episódio dos jogadores da seleção masculina que fizeram campanha para Bolsonaro em evento oficial comparativamente ao tratamento dado à atleta Carol Solberg, que sim.

Carol Solberg não pode se manifestar contra um político que, na visão dela, faz mal ao país. A CBV, de seu lado, ainda não deu respostas satisfatórias às denúncias feitas pelo Ministério Público nos últimos anos. Carol tem o direito de se manifestar politicamente, a CBV não tem o direito de deixar no ar dúvidas quanto ao manejo que faz das verbas que administra.