Resumo
A pesquisa analisa as configurações que os sujeitos possibilitam nas relações de interdependência promovido pelo futebol. Com ênfase no negro e o futebol em seus aspectos culturais, econômicos e sociais, objetivando compreender os significados do futebol na vida de jogadores negros em MT. Nesse sentido, estuda-se as histórias de vida, destacando os hábitos e práticas em relação ao esporte; as relações no futebol, bem como o significado do esporte para os sujeitos. Perguntamos o seguinte: como era o futebol nas décadas de 1950/60 em Cuiabá e quais relações de interdependências foram configuradas com o negro no futebol mato-grossense? Os sujeitos do estudo são jogadores negros campeões que atuaram nas décadas de 1950/60 em Cuiabá. Esta pesquisa é orientada pela concepção dialética e fenomenológica, cujo objeto é construído a partir da relação indivíduo e sociedade, enfoca o negro em inter-relação com o branco no futebol. Busca-se, situar os sujeitos na vida cotidiana, com suas percepções e preocupações, revelando “os significados subjetivos implícitos que penetram no universo dos atores sociais”. O enfoque dialético abrange a compreensão das transformações dos sujeitos na relação dialética homem/mundo e da sociedade humana, fazendo a síntese entre o passado e o presente. As entrevistas foram realizadas durante os meses de julho e agosto de 2014 com Accácio, 74 anos que jogou no MEC – Mixto Esporte Clube e no Rondonópolis Social Clube contando dez anos de atuação no futebol e; Marcelo, 72 anos que jogou no Mixto por dois anos, foi campeão em 1959 e 1962, foram os sujeitos da pesquisa. No certame de 1959, o Mixto conquista seu nono título em treze certames e também apresenta a maior goleada quando venceu por 10 x 0 jogando contra o Aeroviários. Os resultados indicam que o futebol se amparava nas normas do esporte amador, mas, embora, a maioria dos jogadores vinham das camadas populares o status de futebolistas de sucesso possibilitaram aos negros a construção de redes de apoio e vinculações substanciais no mundo do trabalho, pois o pertencimento ao clube funcionava no interior de sociabilidades que tinham conexões com outras esferas da vida. O sentido da diferença racial foi ressignificado, mas ainda assim, por vezes os jogadores negros restringiam os grupos de contato a fim de evitar constrangimentos. O futebol era amador naquele contexto histórico. Entretanto, observamos evidências de profissionalismo pelas atitudes e procedimentos dos jogadores negros em relação ao esporte, pela dedicação aos treinamentos, pelos cuidados com o corpo e pela energia dos pensamentos que focavam durante a concentração: “temos que ganhar”. Expressaram nas narrativas um especial apreço pelo futebol arte valorizando o domínio das normas do esporte e os elementos técnicos e táticos do jogo. Os resultados da pesquisa, possibilitam afirmar que as configurações dos sujeitos criaram uma estrutura tangível de materialidade e subjetividade que serviram às novas gerações de crianças e jovens e a população em geral criarem subjetividades com o esporte. De fato, desenvolveram o aparato cultural (simbólico) para o crescimento do futebol que se constitui importante atividade de lazer no estado de Matogrosso.