O Futebol e o Poder Público: Interferências e Intervenções Não Dialogadas em Dias de Jogos do Botafogo-PB
Por Phelipe Caldas Pontes Carvalho (None), Phelipe Caldas Pontes Carvalho (Autor).
Resumo
Em minha pesquisa de mestrado eu venho analisando como um estádio de futebol, ainda que muitas vezes ocupado por torcedores de um mesmo clube, acaba permeado por uma série de fronteiras e territórios, que delimitam múltiplas identidades que as vezes são até mesmo rivais e antagônicas. Pegando como exemplo o Botafogo da Paraíba, foco de meus estudos, cada uma das diferentes torcidas organizadas e cada um dos grupos de torcedores dentro do Estádio Almeidão possui diferentes dinâmicas, diferentes comportamentos e diferentes posturas; e, no mesmo sentido, diferentes visões e julgamentos sobre o outro. Ainda dentro desta perspectiva, pretendo, contudo, propor para este Grupo de Trabalho um recorte específico, e assim analisar como se dão as tentativas de regulações do poder público diante desses diversos grupos, e como este mesmo poder público tem reações distintas a depender do grupo em questão (a depender de classe econômica, se é ou não de torcida organizada, etc.). A partir de pesquisas etnográficas realizadas ao longo de quase dois anos, pretendo discutir como o Ministério Público do Estado, por exemplo, desconsidera os valores simbólicos e afetivos dos espaços quando transformados em territórios ou em lugares, e tenta definir por decreto, sem diálogos ou mesmo qualquer tipo de sensibilidade, onde cada torcer deve obrigatoriamente se posicionar e se fixar, muitas vezes provocando deslocamentos que têm consequências danosas para os respectivos grupos de torcedores. Da mesma forma, a partir de um debate proposto principalmente por Michel Agier (mas também por uma série de outros autores), sobre como as fronteiras e as alteridades são importantes para a definição das identidades, pretendo refletir ainda sobre como a decisão cada vez mais frequente do Ministério Público em fazer pressão pró-torcida única nos estádios em dias de jogos, pelo menos no caso pesquisado da Paraíba, se apresenta ao longo dos tempos como maléfica ao futebol, aos clubes, aos próprios torcedores de diferentes equipes. A proposta deste trabalho, pois, é mostrar como as intervenções do poder público no futebol paraibano, ainda que realizado sob o discurso recorrente da segurança e da melhor comodidade do torcedor, acaba por interferir negativamente neste mesmo torcedor, uma vez que são decisões que são tomadas com base muitas vezes em preconceitos e estereótipos e que quase nunca pesam de fato os próprios interesses desses torcedores como grupos sociais.