Resumo

O presente estudo visa compreender como o futebol era representado em um jornal para mulheres no período de 1941 a 1965. Para tanto, foram coletadas reportagens no Jornal das Moças no período demarcado, o qual possuía grande repercussão naquele momento histórico (LTTCA, 2018).  Este recorte temporal se justifica devido à proibição desta prática para as mulheres, a partir de duas legislações brasileiras: Decreto-Lei n° 3.199, de 14 de abril de 1941: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”. E, em 1965, na Deliberação N° 7 do Conselho Nacional de Desportos: “Não é permitida a prática de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia (...)”.  Diante deste cenário de exclusão das mulheres do futebol, o Jornal destaca: “o futebol é condenado na infância e adolescência, (...) evite sempre a fadiga e a estafa” (EVANGELHO EDUCAÇÃO FÍSICA, 1959, p. 20). Assim, percebe-se um estímulo ao distanciamento das mulheres desta prática e uma aproximação da arquibancada. Tal como reforçam os trechos a seguir: “vestido duas peças (...) ideal para o campeonato carioca de futebol” (PROPAGANDA, 1953, p. 24), o qual incentiva uma vestimenta apropriada para elas irem ao estádio, e em uma entrevista com uma dona de casa, a qual reforça uma representação de mulher torcedora: “(...) de uma coisa [Fada Santoro] esta certa: não perderá o Campeonato Mundial de Futebol de 1954” (SUZY, 1951, p. 9). Por outro lado, também havia reportagens que traziam o olhar sobre a mulher como inspiração para os homens: “Nos campos de futebol, por exemplo, os jogadores se transformam em verdadeiros gigantes (...) sabedores que são que mil olhos de irrequietas jovens lhes seguem (...)” (RONALD, 1958, p.9). Estes recortes revelam uma abertura para as mulheres ao futebol, mas sempre ligado ao ideal de beleza e como este aumenta a performance dos homens. Diante destes dados, conclui-se que no período demarcado, ocorre um aumento da adesão das mulheres ao futebol, porém de forma secundária aos homens, com representações de ornamentação e não de desempenho, mas, sim, na arquibancada como torcedora dos times masculinos.