Resumo

O futebol tem, para as metrópoles de Buenos Aires e do Rio de Janeiro, a força das grandes representações culturais. Embora ubíquo nas duas cidades, o esporte se manifesta de modo bastante distinto em cada uma delas, e permite articulações igualmente díspares com outros domínios do social. O grafite, como manifestação simbólica capaz de materializar no espaço as particularidades de cada cidade, permite vislumbrar relevantes aspectos da formação histórica e identitária do esporte nas duas cidades latino-americanas: enquanto a capital argentina privilegia elementos localistas, ao ponto de cada clube representar especificamente seu bairro, a urbe fluminense, sob o signo da neutralidade hiperbólica do Estádio Jornalista Mário Filho, vulgo Maracanã, é palco dos amplos projetos de (re)construção de uma identidade nacional. Portanto, se no caso portenho é possível identificar nos grafites com motivos futebolísticos um caráter fragmentário, nos quais o fator prevalecente é a demarcação e apropriação simbólica de um determinado território entendido como particular, no caso carioca, o aspecto fundamental dessas manifestações imagéticas e discursivas é o de unificação, sobretudo nas representações referentes à seleção nacional. Dessa forma, as implicações sobre os usos do espaço, os deslocamentos populacionais, as formas de vida associativa e a coesão social em sentido mais amplo estão profundamente ligadas às noções de memória, identidade e território.

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