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O esporte é pródigo em disputas. Aliás, não fosse a competição o esporte seria qualquer outra coisa. Essa talvez seja a condição básica daquelas e daqueles que escolhem ser atletas. A busca pela excelência leva algumas pessoas a renunciar a uma vida comum a milhões de seres humanos para repetir à exaustão um gestão que beira a perfeição.

Alguns chamarão a isso de alienação. Outros dirão dedicação. O que digo é que essa disposição para chegar a ser o melhor tem consequências sérias pessoais e institucionais.

Do ponto de vista pessoal o distanciamento das questões maiores da sociedade e da vida leva a uma perda de autonomia. Dependência emocional ou material nunca tem final feliz. Pensar e agir demanda esforço e energia que resultará em decisões que também serão julgadas e demandarão esforço em sua compreensão.

No lado institucional o produto da falta de preparo resulta em falta de liderança, entendida como desinteresse. Essa fragilidade favorece a manipulação por parte de quem compreende a dinâmica da máquina. Tem-se então a política de cotas que só se efetiva com a verdadeira qualificação, capacitação e autonomia dos atletas. Ou então, o jogo da manipulação continua a se reproduzir ad infinitum.

As eleições do COB desta semana mostraram algumas questões muito importantes para a compreensão do esporte olímpicos brasileiro:

- Embora Pierre de Coubertin desejasse que o sistema olímpico fosse algo suspenso da sociedade isso parece impossível. As eleições foram acompanhadas com interesse incomum, com intervenções externas visíveis até mesmo aos mais cegos;

- Esporte não vive sem política, seja ela partidária ou não. Afinal, o ser humano, que vive e se organiza socialmente, é um ser político. O esporte na atualidade não é a mesma prática aristocrática do passado. Fala-se muito em capacitar os atletas para assumirem outras funções que não competir e isso vale também para as federações e confederações;

- Os atletas estão no jogo democrático para ser titulares e não reservas, papel consagrado nesse mais de um século de atividades. A presença e atuação da comissão votante, e de um vasto grupo que não vota, foi determinante para eleger alguns candidatos. Mais do que nunca fizeram valer um princípio olímpico: o respeito.

- A máxima “o jogo é jogado no campo e o vencedor só pode ser proclamado quando o apito soar” valeu mais do que nunca. A finta é um gesto comum em diferentes modalidades, o que serve para tirar o foco da defesa no ataque iminente. Fintou-se muito nos dias que antecederam as eleições e o resultado apontou quem subiu no bloqueio da bola de ponta enquanto o ataque se fez numa chutada de meio;

- Embora os jogos de baralho não sejam olímpicos muitos dirigentes praticaram o “pocker face”, ou seja, fizeram de conta, blefaram sobejamente, fazendo com que o resultado fosse desconhecido até o momento da contagem dos votos. Isso certamente terá um preço.

Resta agora esperar para ver como a Assembleia Geral se comportará depois de tudo.

O presidente Paulo Wanderley anunciou que a família olímpica é como outras tantas: seus membros discordam, brigam, porém, seguem juntos. Não há dúvidas disso. E a história está aí para mostrar quantos desafetos são capazes de sentar-se à mesma mesa, mesmo depois de desferirem impropérios aos adversários, dentro e fora das quadras.

Depois de tudo fica o desejo de ver o COB ser forte e representativo. Cuidar do esporte e, principalmente, dos atletas. A começar de Carol Solberg.