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Dispostos a perder peso a qualquer custo, milhares de brasileiros seguem as orientações de livros e se rendem aos regimes mais famosos

Fazer dieta é um comportamento do qual dificilmente se escapa na vida. “Pelo menos metade da população faz regime para emagrecer em algum momento”, diz o endocrinologista Walmir Coutinho, da Força-Tarefa Latino-americana da Obesidade. Uma pesquisa conduzida por ele mostrou que 90% dos candidatos ao emagrecimento que procuram o médico pela primeira vez já tinham tentado uma dieta. A maioria passou por regimes da moda: o das proteínas e o da sopa, entre outros. “Quase sempre são dietas com quantidades desequilibradas de nutrientes, que reduzem o peso,

mas são interrompidas porque a pessoa sente fome
ou mal-estar”, explica.

Apesar dos dissabores de quem declara guerra à balança, o mercado de dietas cresce. Prova disso é a multiplicação de livros sobre o assunto, com vendas que não negam o sucesso do tema. Em um mês, em apenas uma das redes de livrarias, a Siciliano, foram vendidos cerca de mil livros do gênero. Na lista dos dez mais procurados figuram a Nova dieta revolucionária do dr. Atkins, de Robert Atkins, e a Dieta do tipo sanguíneo, de Peter D’Adamo e Catherine Whitney. Com características que variam da limitação a um grupo alimentar (carboidratos ou proteínas) até propostas exóticas, como a escolha dos alimentos de acordo com o tipo sanguíneo, muitas dessas dietas emagrecem. “Qualquer restrição alimentar leva à perda de peso nas primeiras semanas”, afirma Coutinho. Em geral, porém, a vitória é mesmo só no começo. Que o diga a atriz Deborah Secco. “Fiz todos os tipos de dietas. Alimentei-me à base de sopas, comi proteínas durante duas semanas, mas meu peso acabava maior do que antes”, desabafa. Infeliz com o “efeito sanfona” causado pelos regimes, ela procurou uma nutricionista e adotou uma rotina de seis pequenas refeições diárias. Na opinião dos especialistas, a atriz seguiu o caminho certo. “Ninguém precisa de dietas fantásticas. Basta conhecer os limites e necessidades do organismo. Mas isso leva mais do que um verão”, diz Josefina Bressan Monteiro, da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Viçosa (MG). Quem ainda assim prefere dietas prontas, precisa ao menos conhecê-las melhor. Saiba mais detalhes dos principais regimes da moda.

Atkins ou das proteínas

Na década de 70, o médico americano Robert Atkins criou um dos maiores fenômenos dos regimes de emagrecimento. Convicto de que os vilões dos quilos a mais eram os carboidratos – presentes em pães, massas, frutas, doces e em todos os tipos de açúcares, Atkins prescreveu a abolição desses compostos do cardápio. No seu lugar, indicou o consumo de alimentos ricos em proteínas e gorduras, como carnes vermelhas, bacon, ovos e frios. Hoje, a dieta tem milhares de adeptos. No Brasil, virou mania até entre os políticos. Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que estava emagrecendo graças ao regime. A governadora do Rio, Rosinha Matheus, perdeu 14 quilos com a dieta.

No que se baseia e como atua? 
Atkins defendia a idéia de que a maioria dos problemas de obesidade deriva de uma disfunção metabólica que resulta no excesso de insulina, o hormônio que abre a porta das células para a entrada da glicose. Portanto, a proposta é controlar a substância. A melhor maneira de fazer isso seria reduzir a ingestão dos carboidratos, compostos que exigem a liberação de uma grande quantidade de insulina durante a digestão. As proteínas e gorduras, ao contrário, poderiam ser aproveitadas pelo corpo com menos insulina.

Por que emagrece? 
Manteria equilibrado o nível de insulina. Segundo o método, ingerir muita proteína também aumenta a vontade de urinar, eliminando líquido. Há outras explicações. Uma delas é a de que o consumo de proteína e gordura dá saciedade por mais tempo e diminui o volume de comida ingerida. Há um programa de 14 dias para emagrecimento rápido (perda de quatro quilos ou mais).

Como sair sem recuperar o peso? 
Atkins sugere um período de manutenção. Nessa fase e depois pode-se adicionar carboidratos às refeições, em pequenas quantidades. Estudos mostram, porém, que, mesmo mantendo a dieta, recupera-se o peso inicial em um ano.

Que alterações pode provocar?

Se a dieta for mantida por um longo período, há o risco de doenças como cálculo renal, acúmulo de ácido úrico (gota) ou até coma por falta de açúcar no sangue, em casos extremos. Há sobrecarga de órgãos como rins e fígado. Os médicos advertem também para um possível aumento do colesterol. No entanto, não há estudos conclusivos sobre esse efeito.

Contra-indicações
Não é aconselhável a quem tem gota ou apresenta
problemas nos rins ou fígado.

Tipo sanguíneo

O médico americano Peter D’Adamo é o autor do best-seller A dieta do tipo sanguíneo. Durante 15 anos, ele pesquisou uma suposta conexão entre os tipos sanguíneos, alimentos e doenças. E assim elaborou sua teoria, que conquistou o cantor e compositor João Bosco. Sangue tipo B, ele tirou o frango do cardápio e passou a ingerir cápsulas de magnésio. “Pode parecer bobagem, mas me sinto muito mais disposto e feliz”, garante.

No que se baseia e como atua? 
A dieta seleciona os alimentos conforme a tipagem sanguínea. Ela não leva em consideração o fator Rh (positivo ou negativo). O inventor sustenta que os quatro tipos de indíviduo (A, B, AB e O) diferem na capacidade de assimilação dos nutrientes. A escolha dos alimentos adequados ao perfil sanguíneo levaria à redução de peso. Segundo a teoria, para o tipo O, por exemplo, a ordem é evitar grãos, pães e legumes. Mas carnes vermelhas estão liberadas. Seu oposto é o tipo A, que recebe a curiosa recomendação de comer abacaxi, pois a fruta aumentaria a utilização das calorias. O tipo B sofre com a retenção de líquidos provocada pelo consumo de milho, lentilha, amendoim e trigo. Já o AB deve fugir de filés e outras carnes porque lhe falta a acidez estomacal necessária para metabolizar corretamente o alimento.

Por que emagrece? 
A sensação de fome diminuiria porque, ao ingerir os alimentos
compatíveis com o tipo sanguíneo, a pessoa se sentiria saciada
com uma quantidade muito inferior à qual estava acostumada. O resultado é lento. Não há indicação precisa.

Como sair sem recuperar o peso? 
De acordo com o autor, não há como manter o peso
se o programa for abandonado.

Que alterações pode provocar?
Não existem evidências científicas que assegurem os efeitos propalados. Há muitos alimentos proibidos e permitidos segundo o tipo sanguíneo. Isso pode gerar confusão e induzir a uma ingestão irregular de nutrientes. Na dieta do tipo B, por exemplo, faltam frutas, o que priva o organismo das vitaminas presentes nesses itens.

Contra-indicações 
Os especialistas afirmam que pessoas diabéticas ou que tenham tendência à elevação do colesterol não devem aderir à dieta, se ela confrontar as restrições impostas pelo tratamento médico.

Idade verdadeira

Um dos motivos da vendagem do livro A dieta da idade verdadeira, dos americanos Michael Roizen e John La Puma, é um teste detalhado para o interessado calcular sua idade verdadeira. A bateria de perguntas avalia hábitos alimentares e de vida, como a prática de exercícios e tabagismo, seguido de sugestões para adotar uma rotina saudável, emagrecer e retardar o envelhecimento.

No que se baseia e como atua?
Na correção de hábitos alimentares e de vida, Roizen e La Puma defendem a substituição dos alimentos ricos em calorias por uma dieta mais nutritiva e em quantidades controladas. Sugerem que a pessoa passe a tomar decisões inteligentes na hora de escolher seus alimentos e associa as opções ao rejuvenescimento do organismo. Os autores descrevem como cada um dos ingredientes benéficos dos alimentos trabalha contra a oxidação das células, uma espécie de enferrujamento progressivo dos tecidos que apressa a sua morte. No campo das promessas, Roizen diz que depois de 90 dias comendo certo a pessoa já se sente um ano mais jovem. De forma geral, recomenda o consumo diário de porções de hortaliças, duas de proteína, cereais integrais e cinco a seis nozes antes do jantar.

Por que emagrece? 
No fundo, o que Roizen e La Puma propõem é uma mudança de hábitos. O emagrecimento é consequência do corte de alimentos gordurosos e de truques que diminuem a fome. Comer as nozes antes das refeições, por exemplo, permite que a pessoa se sinta saciada mais rapidamente. A perda de peso é gradual.

Como sair sem recuperar o peso? 
A proposta é a de que o método seja flexível e vitalício. Porém, descobrir a fórmula para levar alguém a mudar definitivamente seus hábitos é um dos maiores desafios dos especialistas. Voltar aos padrões anteriores de alimentação obviamente trará de volta o peso perdido.

Que alterações pode provocar?
Não é nociva, mas pode levar à prisão de ventre e flatulência se os alimentos não forem bem escolhidos.

Contra-indicações 
Pessoas com intolerância alimentar a nozes, castanhas, amendoins ou cereais integrais. As reações variam de coriza até diarréia.

Sopas

Muito popular entre estrelas da passarela,
a dieta fascina pela resposta imediata: os adeptos chegam a perder um quilo por dia. A apresentadora Adriane Galisteu é veterana do método. “Depois que o Ayrton (Senna) morreu,
eu só fazia comer, ver televisão e escrever minhas recordações. Engordei 14 quilos por pura ansiedade”, lembra. Vaidosa, a musa seguiu o conselho de uma amiga e entregou-se a uma dieta líquida. Adriane carregava recipientes com
a sopa para todos os lugares. O empenho deu resultado. Hoje, ela recorre às sopas quando
tem fotos de corpo inteiro programadas. Mas
os especialistas não aprovam essa estratégia radical de emagrecimento. “Não se pode 
brincar com o metabolismo”, critica o nutrólogo carioca João Curvo.

No que se baseia e como atua? 
Substituição de uma ou de todas as refeições pelo consumo livre de sopas prontas ou feitas em casa, pobres em proteínas e carboidratos. Normalmente, contém legumes. Há variações com carnes magras. No entanto, toma-se apenas o caldo. Dura em média uma semana. Mas, em muitos casos, a sensação de fome não diminui e a sopa se torna insuportável já no segundo dia.

Por que emagrece? 
Sem abastecer-se de carboidratos e proteínas – fontes de energia –,
o organismo passa a queimar as reservas de gordura. Todos os dias,
a pessoa perde um pouco de peso. O regime provoca também a 
redução de massa muscular.

Como sair sem recuperar peso? 
Ao final da semana de ingestão
de líquidos, o candidato a magro deve equilibrar as refeições. Quem segue o método costuma retomar
a dieta ao sentir que está com as medidas alteradas.

Que alterações pode provocar? 
A falta de proteínas ou carboidratos pode causar desnutrição e problemas no sistema digestivo, como úlcera. É possível também que a restrição alimentar provoque queda de pressão. Além disso, ao final da dieta, a pessoa pode ganhar mais peso do que perdeu. Submetido à privação, o organismo se sente ameaçado e reage para estocar nutrientes.

Contra-indicações
Atletas ou pessoas ativas não devem seguir a dieta porque podem se sentir muito fracos. Também não é indicada para quem tem pressão baixa. Além disso, pode causar flatulência.

Dieta das enzimas

Prega a separação de alimentos por categoria nutricional. Carboidratos não se misturam com proteínas no mesmo prato. Mas representantes de cada um desses grupos podem ser consumidos sem restrições de quantidade junto com vegetais, exceção para cenouras, batatas e outros legumes ricos em amido (carboidrato que demora mais para ser digerido). É recomendada pelo médico paulista Wilson Rondó, autor de Fazendo as pazes com seu peso. A atriz Fernanda Montenegro aderiu há dez anos. “Não considero uma dieta. É um método que me dá mais energia e também ajuda a evitar o ganho de peso”, diz Fernanda. Muitos spas de emagrecimento também seguem a cartilha. A empresária Ala Szerman, por exemplo, adotou esses princípios no seu spa da Serra da Bocaina, em São Paulo, depois de experimentar bons resultados. “Perdi seis quilos em um mês e meio”, comenta.

No que se baseia e como atua? 
Proteínas jamais podem ser consumidas junto com massas, pães e outras delícias ricas em carboidratos. Bife com batatas, nem pensar. A justificativa é a de que o corpo não possui enzimas para digerir carboidratos e proteínas ao mesmo tempo. O aproveitamento de um dos dois seria prejudicado. No entanto, pode-se comer massas com verduras e carnes com saladas ou legumes.

Por que emagrece? 
A separação dos grupos de alimentos levaria a comer menos. Isso também diminuiria a retenção de líquidos. Em cerca de um mês, pode-se eliminar de quatro a seis quilos.

Como sair sem recuperar peso? 
Não é uma dieta radical. Por isso, é mais fácil segui-la. No entanto, quem entra e sai com frequência pode ganhar peso.

Que alterações pode provocar? 
Como depende do bom senso do praticante para fazer combinações equilibradas de alimentos, existe a chance de haver pouca variedade no cardápio. Se esse comportamento se repetir por tempo prolongado e não houver acompanhamento especializado, pode levar ao consumo de alguns nutrientes em quantidade inferior à necessária.

Contra-indicações 
Pessoas com anemia e outras carências nutricionais.

Dieta dos pontos

Este regime foi difundido pelo endocrinologista Alfredo Halpern, de São Paulo. Tem uma lógica simples. Atribui aos alimentos determinado número de pontos. Cabe ao indivíduo não ultrapassar o total de pontuação permitida. Ganhou muitos adeptos principalmente por causa de sua versatilidade, já que não há restrições. Além do mais, o médico garante que é possível compensar eventuais exageros no dia seguinte.

No que se baseia e como atua?
Baseia-se no controle diário do total de calorias ingeridas. A necessidade calórica de cada um é medida de acordo com vários fatores (sexo e idade, entre outros). A partir desse cálculo, o indivíduo seleciona o que quer comer, sempre tendo o cuidado de não ultrapassar o limite, estipulado em pontos. Em média, homens adultos podem consumir 400 pontos por dia. Mulheres, 300.

Por que emagrece? 
Em geral, as pessoas não sabem o quanto comem. A partir da 
contagem, passariam a ter maior controle e reorganizariam a 
alimentação dentro dos limites calóricos permitidos. Na primeira
semana é possível observar perda de peso.

Como sair sem recuperar o peso? 
Deve-se continuar disciplinado e não fugir do padrão alimentar adquirido ao longo do regime.

Que alterações pode provocar?
Há o risco de que o adepto não aprenda a combinar os pratos de maneira equilibrada. Ele pode, por exemplo, recorrer continuamente a proteínas e se esquecer de consumir outros nutrientes nas quantidades ideais. Se isso ocorrer, pode haver carência nutricional.

Contra-indicações
Situações que precisem de acompanhamento profissional, como hipertensão, diabete, triglicérides e colesterol altos. Nesses casos, a escolha de alimentos deve ser rigorosa para não agravar ainda mais as condições de saúde.

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