Resumo

Pesquisou-se a relação entre o ídolo desportivo e a sociedade contemporânea a partir de depoimentos coletados na imprensa escrita, conseqüentes da morte de Ayrton Senna da Silva. Para que se pudesse compreender a inserção do ídolo desportivo na sociedade, caracterizou-se o Desporto enquanto manifestação cultural a partir de sua versão denominada "Desporto Espetáculo". Ao se adotar como critério a opção pela categoria que apresentasse maior incidência nos depoimentos, revelou-se como principal a questão do herói. A partir de pressupostos preconizados por Carl Jung, se tratou da manifestação do mito do herói por meio do que o mesmo denomina de arquétipo, "dormente" no inconsciente coletivo. A comunicação entre o "herói" desportivo e seus fãs, admiradores e/ou torcedores se estabeleceu de forma inequívoca a partir da análise das diversas subcategorias implícitas nos depoimentos que trataram do herói, dentre as quais as que abordaram temas relacionados à bandeira; imortalidade; exemplo; sucesso; aspirações; glória, enfim, do "herói" como parâmetro de referência que possibilita a catarse coletiva. As evidências das análises demarcaram (a) a instrumentalização do "herói" desportivo, enquanto produto de consumo, descartável e a serviço do sistema capitalista; (b) indicaram para a hipótese de que a manifestação do mito do herói se deu não apenas pela forma com que morreu Ayrton Senna, mas, fundamentalmente em função das sucessivas frustrações vivenciadas pela sociedade brasileira nos últimos anos que produziram como efeito a deterioração de sua auto-estima criando um vácuo que foi ocupado por uma referência positiva que, naquele momento, era representada pela imagem de Ayrton Senna; e, © finalmente, entre outros fatores, pelo fato concreto do "herói" desportivo exercer influência direta sobre o comportamento de escolares. Questiona-se: em que medida o processo acadêmico de Formação de Professores e de Técnicos Desportivos tem atuado no sentido de preservar o ciclo de produção de "heróis" alienados e que se prestam a servir o sistema de consumo de bens e ilusões?

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