Resumo

Introdução: A deficiência androgênica do envelhecimento masculino (DAEM) é uma fase que acomete homens a partir dos 40 anos de idade, caracterizada pelo surgimento de sinais e sintomas de ordem psicológica, somática e sexual, conjuntamente com a diminuição das concentrações de testosterona total. A minimização de alguns sintomas pode ocorrer pela prática do exercício físico, porém ainda existe uma lacuna de evidências que comprovem seus efeitos de maneira experimental na saúde dos homens nessa fase. Objetivo: Analisar o impacto do exercício físico por meio de um protocolo de treinamento concorrente de seis meses, nos sintomas clínicos da DAEM e em aspectos hormonais, metabólicos, psicológicos e sexuais em homens de meia idade sintomáticos para DAEM. Métodos: Ensaio clínico randomizado com follow-up, com duração de seis meses, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina (protocolo n. 2.274.655) e registrado na plataforma internacional de registro de ensaios clínicos “Clinical Trials.gov” (n. NCT03150225). Foram incluídos no estudo 34 homens com idade entre 40 e 59 anos (49±5 anos), que apresentavam sintomas clínicos da DAEM avaliados pela Escala dos Sintomas do Envelhecimento Masculino (AMS scale); destes 23 com concentrações de testosterona total ≤ 346ng/dL, os quais foram randomizados em dois grupos: a) grupo intervenção com treinamento concorrente (TC – n=11) e b) grupo controle (GC – n=12), e mais 11 participantes com testosterona total >346ng/dL que foram alocados ao grupo controle com orientações de atividade física (GC+AF – n=11). Todos os participantes foram avaliados em quatro momentos ao longo dos seis meses do seguimento: baseline, após um, quatro e seis meses de intervenção. Foram avaliados os sintomas clínicos da DAEM pela AMS scale, aspectos hormonais (testosterona total) por meio de coleta sanguínea; os aspectos metabólicos analisados foram: circunferência de cintura por avaliação antropométrica, pressão arterial sistólica e diastólica com esfigmomanômetro, glicose em jejum, triglicerídeos e HDL-colesterol por meio de coleta sanguínea; em relação aos aspectos psicológicos, analisou-se os sintomas depressivos e ansiedade pela Hospital Anxiety and Depression Scale e o estresse percebido pela Escala de Estresse Percebido; quanto aos aspectos sexuais, foi analisada a função sexual (função erétil; função orgásmica; desejo sexual; satisfação sexual; satisfação geral) por meio do Índice Internacional de Função Erétil. Para análise estatística foi utilizado o software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) - versão 20.0 com aplicação dos testes: Anova one-way; Anova Two way com medidas repetidas com teste de comparação de Bonferroni, modelo de regressão linear misto (GEE) e regressão linear múltipla, sendo adotado nível de significância de 5% para todas as análises. Resultados: De acordo com a análise exploratória do perfil dos participantes, foi identificado que a maioria apresentava estado civil casado/união estável (80,8%), pertencia a classe econômica D (57,7%), tinha ensino médio, superior e pós-graduação (31%), não apresentava doenças (80,8%), não fumava (92,3%), e não tomava medicamentos para ansiedade, depressão ou desempenho sexual (100%). Em relação aos desfechos encontrados no primeiro estudo foi observado que o treinamento concorrente teve efeito na melhora dos sintomas somáticos da DAEM a ao final dos seis meses de seguimento (p=0,002), para os sintomas psicológicos e AMS total este efeito foi observado aos quatro meses quando comparado ao GC+AF (p=0,013; p=0,022). Quanto as concentrações de testosterona total, os homens que fizeram parte do grupo TC, apresentaram aumento significativo deste aspecto hormonal após os seis meses de intervenção, em comparação a todos os momentos do seguimento: baseline (p=0,027), um mês (p=0,002) e quatro meses (p=0,003). Mesmo com estes efeitos, a melhora na testosterona total não foi capaz de predizer as melhoras sintomáticas. No segundo estudo, foi observado efeito principal do tempo para os sintomas sexuais da DAEM (p=0,003), função erétil (p=0,001), função orgásmica (p<0,001) e satisfação geral (p=0,001). Ainda, para o GC houve diminuição significativa do escore do desejo sexual após os seis meses de seguimento (p=0,017). A intervenção com treinamento concorrente exerceu efeito direto sobre os sintomas psicológicos da DAEM para o grupo TC com resultados significativos nas interações entre grupo e tempo (p<0,001), diminuindo em 40% sua intensidade. A melhora destes sintomas parece predizer a mudança dos sintomas sexuais da DAEM (p=0,028), satisfação sexual (p=0,014) e geral (p=0,046). Por fim, no terceiro estudo foi encontrado efeito benéfico do treinamento concorrente para a circunferência de cintura (Δ=-2,275cm; SE=0,948; p=0,016) e glicose em jejum (Δ=-10,88mg/dL; SE=4,446; p=0,014) do baseline para o final do seguimento. Para o HDL-colesterol, independente do período de comparação, o grupo que realizou o treinamento concorrente apresentou resultados mais positivos em relação aos demais grupos (p=0,011). Após ajuste da análise pela testosterona total, apenas as alterações da glicose em jejum e do HDL-colesterol continuaram relacionadas ao treinamento concorrente. Conclusão: Com base nos desfechos obtidos, pode-se dizer que o treinamento concorrente foi capaz de impactar de maneira significativa na melhora sintomática, hormonal e metabólica dos participantes deste estudo, e que pôde, de maneira indireta ter contribuído em algum nível para as mudanças nos aspectos sexuais dos homens. Embora para aspectos como os sintomas psicológicos da DAEM foram suficientes quatro meses de intervenção para que melhoras fossem observadas, evidencia-se a necessidade de seis meses de intervenção, já que benefícios adicionais, sobretudo para os sintomas somáticos da DAEM, testosterona total e glicose em jejum, foram identificados ao final do seguimento. Dessa forma, considera-se que esta tese contribui com as evidências inovadoras acerca da possibilidade de utilização de uma intervenção com exercício físico, em especial o treinamento concorrente, por profissionais da saúde como um possível adjuvante no tratamento da DAEM e aspectos da saúde associados. Outras intervenções devem continuar a ser testadas a fim de confirmar o potencial do exercício físico na obtenção de benefícios a saúde nessa fase da vida, bem como identificar outros possíveis efeitos não observados por este estudo.

O trabalho não possui divulgação autorizada

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