Resumo
Este estudo é uma análisedo escotismo brasileiro, mais especificamente da pedagogia escoteira. Situado no campo da educação não formal, seu objetivo principal é compreendercomo o escotismo se realiza e, se a sua prática no Brasil, especialmente na região metropolitana de São Paulo, se diferencia nos grupos escoteiros em função da origem social e econômica de seus membros.O estudo foi feito por meio de um levantamento bibliográfico sobre o tema e uma pesquisa de campo de inspiração etnográfica com observação participante e realização de entrevistas informais. Com esse material chegou-se a dois conjuntos de resultados: o primeiro refere-se às semelhanças e às diferenças observadas entre os dois grupos escoteiros pesquisados: Santo Antonio e Bororô; o segundo remete à noção de "Jogo Escoteiro" construída a partir da categoria nativa "jogo", identificada nesta pesquisa como a principal ferramenta pedagógica do escotismo. Para se chegar a esses dois conjuntos de resultados, segue, primeiramente, um breve histórico do escotismo e de sua construção a partir da figura do seu herói fundador: Baden-Powell. Na sequência são apresentados, a estrutura organizacional e números do escotismo no Brasil, dados que permitem contextualizar a dimensão dessa instituição e, discutir as especificidades dos dois grupos escoteiros pesquisados. Dentre as especificidades dos grupos escoteiros, destaca-se a diferença nos perfis socioeconômicos dos participantes desses grupos, em especial de seus adultos voluntários e os possíveis efeitos dessa diferença junto as expectativas das famílias desses escoteiros. A partir da pesquisa de campo são apresentadas cenas das atividades escoteiras observadas junto aos dois grupos escoteiros, construídas a partir de elementos comuns a eles. Nelas, pode-se notar o jogo como recurso metodológico central da pedagogiaescoteira e a presença indispensável dos adultos voluntários para a realização das atividades escoteiras. A pedagogia escoteira se realiza por meio do "Jogo Escoteiro", um sistema moral que acontece nos grupos escoteiros por meio de rituais próprios do movimento escoteiro os quais são conhecidos e valorizados por seus iniciados. No "Jogo Escoteiro" o adulto voluntário também é um brincante, que joga o escotismo a partir de regras previamente definidas para a sua atuação. Realiza-se em realidades socioeconômicas e culturais diferentes, acontecendo de forma muito semelhante nelas, adaptando-se às características locais de cada grupo escoteiro. Parafraseando Geertz (1978), o "Jogo Escoteiro", é absorvente. Nele, escoteiros ¿ crianças, jovens e adultos ¿ parecem esquecer-se de suas próprias vidas, sendo, para eles, uma espécie de educação sentimental, cuja moral ou ethos educam meninos e meninas a partir das experiências nas atividades realizadas em seus respectivos grupos escoteiros. Essas experiências se dão por meio das atividades tipicamente escoteiras, as tradições, ou como aponta Vallory (2015) os meios educacionais do escotismo, mas que são parte importante das motivações dos escoteiros e elemento indispensável na constituição do sentido de pertença destes com seus grupos escoteiros e com o escotismo. Sem seus meios específicos, ou seus rituais próprios, a pedagogia escoteira não dá conta de sua finalidade