Resumo

Abordar o tema dos esportes, ao menos em filosofia do esporte, requer, de certa modo, algum tipo de consideração acerca da díade competição-cooperação. Aliás, pensar no próprio ser humano e em suas representações lúdicas ou em seu próprio desenvolvimento biológico, social e político nos remete a uma investigação sobre o jogo do ponto de vista competitivo e/ou colaborativo. Ora, por que tendemos a tencionar e polarizar os conceitos de competição e cooperação se eles não necessariamente devem ser compreendidos como opostos? É nesse sentido que o presente artigo se propõe a balizar ambos os conceitos e colocá-los em diálogo, de modo que seja possível concebê-los de forma mais complementar e não simplesmente oposicional, negadora e unilateral. Além disso, eles podem ser concebidos como um jogo ético. Na primeira seção, teceremos algumas considerações sobre a competição e o caráter vantajoso dessa modalidade de jogo e de desenvolvimento do próprio ser humano. Nosso objetivo será explicitar os inúmeros pontos positivos da competição e de como a disputa podem funcionar de modo positivo relativamente à vida humana. Também exploraremos como alguns valores da competitividade são extremamente salutares e necessários ao desenvolvimento econômico, social e político, não podendo ser simplesmente relegados em nome de uma lógica exclusivamente cooperativa. Na segunda seção, refletiremos sobre os elementos formadores e definidores do polo da cooperação, analisando, explorando alguns aspectos do jogo cooperativo, em geral, na cultura humana. Enfatizaremos como a colaboração entre determinados indivíduos rompe barreiras da competição, seja por agregar inúmeros indivíduos sob um mesmo objetivo comum de superação ou por colocar o objetivo final – a vitória – como momento parcial do processo de desenvolvimento do próprio humano e não como meta final e definidora deste. Ao final ponderaremos sobre a possibilidade concebê-los articulados num jogo onde essas duas perspectivas compõem uma terceira via, positiva, que propõe um modo de pensar mais tolerante e uma posição mais universal e vantajosa do ponto de vista humano. Isso é possibilitado pela percepção de que tanto a competição quanto a cooperação podem trazer resultados satisfatórios, e, tomados conjuntamente, instauram um novo paradigma, que é capaz de unir o impulso competitivo com cooperativo em uma interação que é essencialmente ética.

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