Resumo
Este trabalho investiga como se estabelecem as nomeações entre torcidas e torcedores e que implicações podem ser percebidas nas performances deles no contexto do futebol espetacularizado. Aqui, é entendido que há um jogo ocorrendo nas arquibancadas de futebol, no qual as performances de torcedores e torcidas são comunicadas ao público presente, mas também transmitidas a um número indefinido de pessoas que assistem, por exemplo, pela televisão. Esse jogo é um fenômeno cultural (se mantém mesmo após finalizado) e atua paralelo ao que é disputado em campo (a partida de futebol em si), contendo elementos agonísticos semelhantes. As disputas circulam geralmente em torno das diversas maneiras de estar no jogo. Essas diferenças se expressam nas formas como torcem, cantam, vibram, o que usam no estádio, os lugares que escolhem para assistir às partidas de futebol, dentre outros modos. Essa pesquisa tem caráter antropológico, utilizando-se principalmente de observação participante e entrevistas em profundidade com membros de uma torcida do Ceará Sporting Club chamada Setor Alvinegro. Essa torcida se nomeia como “torcida de alento”, uma barra brava ressignificada a partir da condução de um outro habitus torcedor, em oposição a um modelo entendido por eles como “tradicional”. A abordagem do jogo ocorre nas interações face a face, geralmente nos estádios, com base numa perspectiva fenomenológica, a partir de Schutz, e com o interacionismo, a partir das influências de Simmel e Goffman. Nesse jogo, as várias torcidas (aqui entendidas como equipes) estabelecem condutas (“ideologias”) a serem performadas durante as interações, o que cria condições de disputas por reconhecimento, espaços e poder. No ínterim dessas disputas e tentativas de nomeações, há uma moral torcedora latente, como fio condutor que permite também o acontecimento de uma competição em torno da universalização de um modo de participar do jogo, como se houvesse uma “verdadeira” maneira de demonstrar sua paixão clubística.