O Jogo e o Lúdico Revolucionário Como Negação Ao Trabalho Assalariado
Por Robson de Lara Cunha (Autor).
Integra
INTRODUÇÃO:
O trabalho no decorrer dos tempos foi visto como um mal inevitável e necessário por Platão, uma maldição para a tradição judaico-cristã, para gregos e romanos uma atividade degradante e envilecedora própria de escravos (VEGA, 1979). Em outros tempos, foi tido como um elemento que dignificava o homem, sendo hoje uma esfera da vida inserida no capitalismo globalizado, partindo do entendimento de trabalho sustentado por Karl Marx.
Segundo Waichman (1997) o trabalho abstrato, implica na satisfação de necessidades, no crescimento nosso como sujeitos, sendo uma extensão da criatividade, do prazer, o desagravo interno. Porém, em uma organização social material do trabalho, o sujeito entra numa relação dissociada, coisificante em relação a si mesmo, à sua energia mental e física, vendendo sua mão-de-obra e alienando-a por um tempo determinado.
Assim, o objetivo do estudo foi proporcionar, através da construção e vivência de um jogo, algumas reflexões sobre o lúdico revolucionário, despertando pensamentos críticos sobre a consciência e sua significância em tempos de alienação midiática, através do brincar.
Tendo em vista o entendimento de trabalho concreto trazido por Marx (1985), buscamos aproximar tal significação para o jogo, visto que, assim como o lúdico, ele pode ser expressão de resistência e negação ao trabalho degradante, não se identificando com a lógica da produtividade e lucro. Estas reflexões são essenciais na formação e atuação crítica dos profissionais da área e afins.
METODOLOGIA:
O encaminhamento metodológico foi de cunho teórico-prático, cujo primeiro momento, consistiu na análise de filmes do personagem Mazzaropi por tratarem de um entendimento de trabalho, elencando-se elementos e categorias necessárias à construção de um jogo e sua respectiva vivência, a fim de suscitar as reflexões necessárias a respeito da categoria trabalho e do lúdico revolucionário.
Levando-se em consideração as características do trabalho, o mesmo desenvolveu-se através de:
1 - Análise de filmes que retratam a categoria trabalho;
2 - Investigação do processo de entendimento do trabalho e de sua evolução no decorrer do processo histórico;
3 - Leitura e análise dos tipos de jogos e das formas de classificação dos mesmos;
4 - Estudo do lúdico enquanto elemento de contraposição ao trabalho assalariado (lúdico revolucionário);
5 - Elaboração de um jogo a partir do levantamento de elementos advindos dos filmes analisados e da fundamentação teórica;
6 - Vivência do jogo elaborado e discussão coletiva do mesmo, em se tratando da temática proposta, com alunos de graduação em Educação Física do 3º ano.
RESULTADOS:
A partir da metodologia descrita acima, verificamos que o trabalho é um elemento presente na vida do homem desde seu surgimento, todavia assumindo diferentes interesses no decorrer da história. Esse, de acordo com Vega (1979) é visto de diferentes modos, em diferentes épocas e por diferentes autores.
As personagens Pedro Malasartes e Pirola interpretados por Mazzaropi nos filmes analisados parecem contrariar a lógica do capital, já que tais personagensnão trabalham, sobrevivem graças à sua manha, conseguindo ter tempo para a preguiça, para pensar na vida. Por outro lado não tentam superar tal situação, na busca de uma outra forma de viver, talvez pela simbologia que as personagens trazem para o ideário brasileiro.
Buscou-se, portanto, por meio de um jogo de campo e de intensidade forte, de acordo com Miranda (1980), a desconstrução do elemento trabalho enquanto aspecto degradante, estimulando a necessidade de se brincar de forma livre, de se vivenciar o lúdico revolucionário no jogo, aquele que contraria a lógica imposta na sociedade.
Os participantes vivenciaram o jogo após a discussão sobre os elementos advindos das ações vivenciadas no mesmo, fortaleceram a construção do conhecimento coletivo, apesar da dificuldade de se trazer tal categoria de forma profunda, para uma vivência prática, visto entendermos o lúdico como negação ao trabalho.
CONCLUSÕES:
No presente estudo verificou-se que com o passar do tempo a classe capitalista conseguiu construir uma ideologia positiva sobre o trabalho explorado, na qual pessoas consideradas confiáveis são aquelas que trabalham e que não ficam ociosas. Tal ideologia trouxe então para o capitalismo a idéia de que o trabalho assalariado enobrece e que possui qualidades positivas para quem o exerce.
Essa foi uma maneira encontrada de fazer com que o trabalhador fosse submetido
à exploração e à alienação, ou seja, ele perde o controle sobre o processo de produção e do produto do seu trabalho, transformando em mercadoria a sua mão-de-obra.
Desta forma, vê-se que o trabalhador passa a ser durante toda a sua vida apenas força de trabalho, sendo que todo o seu tempo disponível tem que ser empregado no próprio aumento do capital, não restando espaço para descanso, crescimento pessoal, saúde, criatividade etc.
Com a construção, vivência e discussão do jogo, foi possível proporcionar aos participantes a noção do lúdico revolucionário através das ações vivenciadas, sendo possível a desconstrução do trabalho degradante e a consciência da necessidade de brincar, independentemente da idade, já que a infância se encontra em qualquer fase da vida e todos têm o direito de se alegrar e ter prazer.