Resumo

A busca pelo bem-estar físico e social é constante ao longo da vida, com cuidados e prazeres pessoais sendo essenciais. A partir do diálogo entre Merleau-Ponty e Le Breton, é possível aprofundar a compreensão do corpo nas interações sociais, analisando como ele é vivenciado no contexto individual. Merleau-Ponty, com a fenomenologia da percepção, acrescenta à nossa proposta a ideia de corpo como sujeito, como ser no mundo, transferindo as qualidades do sujeito para o corpo e não para a consciência. David Le Breton nos convida a compreender a corporeidade humana como um fenômeno social, cultural, motivo simbólico, objeto de representação e imaginários. Assim, a Educação Física enquanto área de conhecimento que pensa corpo e suas possibilidades de existir e movimentar, deve contribuir para essa discussão, inserindo o corpo como síntese da cultura, uma vez que expressa elementos específicos da sociedade na qual está inserida. Portanto, questionamos: Como se constituem as mediações entre corpo e emoções na experiência da corporeidade feminina no futebol por lazer? Essa pesquisa reforça a importância de considerar as múltiplas dimensões do ser humano em suas práticas, culturas e modo de vida e como estas influenciam em suas escolhas e experiência com o corpo. O futebol feminino no Brasil é marcado pela cultura corporal que o caracteriza como sendo um esporte masculino e popular principalmente entre as classes mais pobres.  Contribui ainda para expandir os estudos que relacionam a Educação Física aos estudos socioculturais, abordando práticas corporais em contextos femininos como uma possibilidade de expressão e movimento. A pesquisa tem por objetivo analisar as percepções do corpo e emoções vividas por mulheres, considerando as experiências das corporeidades construídas e reconstruídas na prática do futebol por lazer. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva fenomenológica, que busca descrever e interpretar os fenômenos que apresentam a percepção. Utilizou-se para produção de dados entrevista e diário de campo. Sujeitos da pesquisa foram 9 mulheres praticantes de futebol por lazer há pelo menos um ano. As narrativas indicam o corpo como instrumento de realização e fortalecimento, associado ao bem-estar e percebido como “templo” e “morada”. Aspectos como preconceitos, socialização e a visão masculina sobre mulheres no futebol foram mencionados, junto a insegurança corporal, apontando uma busca por autossatisfação. Sentimentos variados emergiram, incluindo alegria, euforia, raiva e superação, com uma sensação de liberdade e retorno à infância. As emoções intensas propiciaram desaceleração e autoconexão, ressaltando o papel do corpo e das emoções no autoconhecimento e na expressão pessoal. As conclusões destacam experiências de preconceito, mas também motivações para permanência no grupo, com o corpo sendo um meio de interação com o ambiente e com os outros presentes.

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