Integra

O outono é a minha estação do ano preferida. A temperatura já não é tórrida como no verão. Os dias têm o equilíbrio entre noite e dia. Mas, o que me encanta de fato é a cor do céu. Não existe nada mais lindo do que pôr do sol de outono.

Outono também é metáfora de um tempo que se esvai e sinônimo de decadência, ruína, declínio. Curiosa a antítese entre o belo do céu do outono e a iminente derrocada de algo que deveria ser apenas uma estação do ano. Um momento que iniciaria o necessário recolhimento para o inverno.

Talvez eu sinta isso porque tenho vivido um outono que longe de cumprir três meses, já dura um ano. E, nesse longo ano vejo pessoas próximas a mim e a muita gente querida que não poderão ver a próxima primavera. Não sei vocês, mas eu tenho andado “tão a flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar”, como cantou o poeta. Claro que eu gostaria de escrever sobre os atletas que estão pelo mundo buscando índices para os Jogos Olímpicos, mas meu coração se aperta em pensar que eles podem estar correndo um risco brutal em busca de um sonho que poderá ser realizado pela metade, caso os Jogos de Tóquio venham mesmo a acontecer.

Meu coração lamenta pela internação por covid-19 da atleta olímpica e campeã mundial de basquetebol Ruth Roberta de Souza que a convite da técnica Maria Helena foi jogar em Piracicaba com a promessa de que ela estaria na seleção brasileira, em menos de três anos. Em 1987 Ruth participou dos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis e de Havana, foi aos Jogos Olímpicos de Barcelona. Decidida a se afastar da seleção em 1993, aceitou participar da campanha do Mundial da Austrália, que culminou no título mundial inédito para a seleção brasileira feminina. Sigo daqui na torcida para que Ruth saia do hospital e volte para a sua vida dedicada ao esporte em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul.

Também acompanho o tetra campeão paralímpico e campeão mundial Antonio Tenório, atleta do judô paralímpico se encontra internado em uma UTI. Tenório é considerado o maior judoca paralímpico da história e um dos poucos do mundo a disputar tanto competições paralímpicas quanto regulares.

Entretanto, há mais olímpicos entre os mais de 300 mil mortos no Brasil.

Essa semana a covid-19 levou também Ulisses Laurindo dos Santos. Nascido em Coruripe, em Alagoas, mudou-se para o Rio de Janeiro, com a mãe e a irmã. Chegando na então capital federal trabalhou como entregador de pastéis, auxiliar administrativo e, aos 18 anos, serviu o Exército, onde começou a participar de provas de corridas rústicas e de meio fundo. Aos 20 anos, foi convidado a competir pelo Vasco da Gama e depois foi para o Flamengo. Participou dos Jogos Olímpicos de Melbourne, em 1956 e dos Jogos Pan-Americanos de Chicago, em 1959, conquistando a 4ª colocação nos 400 metros com barreiras. Parou de competir em 1965 quando já era jornalista. A convite de Luiz Carlos Barreto passou a escrever a coluna “Pista & Campo”, no Correio da Manhã, dedicada ao atletismo. Trabalhou como jornalista em diversos eventos esportivos e veículos de comunicação, sempre na área de esportes.

As notícias relacionadas ao esporte em tempos de pandemia não são nada animadoras. Pesquisa publicada essa semana mostra que o campeonato paulista de futebol bateu todos os recordes internacionais de contaminação. Uma marca para se lamentar e não celebrar. É um resultado pior que qualquer 7 x 1. Uma guerra na qual sabemos não haverá vencedores. Um fato para se lamentar tanto quanto a contaminação de Ruth ou a morte de Ulisses. Quisera eu que ele pudesse ter retornado a Ítaca para encontrar sua Penélope.