Resumo
Esta investigação faz um mergulho no agenciamento que trata do lazer em movimentos sociais que defendem direitos das mulheres brasileiras, aqui representados pela Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), pela Marcha Mundial de Mulheres (MMM), pela União Brasileira de Mulheres (UBM) e pelos setores que representam as mulheres da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da União Nacional dos Estudantes (UNE), com o objetivo de cartografar os territórios que compõem possíveis relações entre mulheres e lazer na pauta desses movimentos. A metodologia adotada para a construção do conhecimento utiliza-se da pesquisa bibliográfica, da análise documental que, além dos seis movimentos, envolveu as conferências e os Planos Nacionais de Políticas para as Mulheres e das narrativas das lideranças dos Movimentos Feministas participantes da pesquisa, obtidas por meio de entrevistas semiestruturadas. A apresentação final do trabalho remete a uma mesa de negociações de pautas, organizada com rodada de apresentações, análise de conjuntura, ordem do dia, carta do encontro e avaliação. As relações estabelecidas partem das dificuldades enfrentadas pelo lazer para compor as pautas dos movimentos sociais, das conferências e dos planos. As conexões entre o referencial bibliográfico, a análise documental e as narrativas das lideranças apontam para aspectos macro e micropolíticos que contribuem para essas dificuldades e compõem a cartografia empreendida. Tais aspectos relacionam a ausência do lazer e a forma como, por vezes, ele se faz presente na vida das mulheres a questões como: o lugar e o papel da mulher na sociedade; a amplitude dos marcadores identitários que constitui o segmento mulheres; as jornadas de trabalho vividas pela maior parte delas; o cuidado para com os/as outros/as tomando o tempo e o espaço do cuidado de si; o excesso de preocupações imposto pelas responsabilidades assumidas; a amplitude, complexidade e subjetividade que envolvem a temática do lazer; o espaço público como espaço pensado por uma lógica masculina e excludente; a mercantilização do lazer interferindo no sentido e nas possibilidades de acesso e o não reconhecimento do lazer como direito. Como desafio, me propus, ainda, a estabelecer esboços que criam linhas para um novo agenciamento que levaria a um possível devir de lazer feminista.