Resumo

O presente texto é fruto de um estudo a respeito da espetacularidade do corpo feminino na suça tocantinense, manifestação tradicional que engloba dança e música. Uma tradição centenária que tem como matriz formadora a mistura de rituais oriundos de cosmologias e tradições africanas, indígenas e portuguesas inserida nas festas religiosas de diversas regiões brasileiras, que se reflete nos movimentos e gestos da dança e nos instrumentos musicais. Neste artigo pretendo trazer ao debate aspectos das relações entre gênero e cultura tomando como recorte contextual o feminismo negro (Gonzales, 1982a, 1982b, 2020; Ribeiro, 2020) e a suça, como expressão cultural no estado do Tocantins. Tal proposta de interlocução mostra como a ausência de pesquisas que trazem a voz feminina tem inviabilizado o reconhecimento do lugar e o papel das mulheres na suça, ocultando assim o caminho de sua referência na história. Na tradição nagô a ancestralidade feminina é representada por pássaros, assim destaco o corpo feminino na suça como arquivo vivo, mães-pássaros agindo na produção do seu ninho de tradições. Destarte dar voz para as guardiãs da memória poderá apontar para novas formas de (re)conhecimento da mulher nas manifestações tradicionais rompendo com a invisibilidade do seu lugar no universo da cultura brasileira.

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