Resumo

Tendo como foco a reflexão vinculada ao problema da motivação para a prática regular de atividades físico-esportivas, nossa questão se coloca nos seguintes termos: uma atividade de análise e interpretação sobre a utilização (no Brasil) da palavra malhar como metáfora da exercitação física pode contribuir para uma melhor compreensão dessa prática e/ou do fazer corporal físico-esportivo? Trata-se de uma pesquisa que se estabelece ancorada à compreensão de que a metáfora tem sua historicidade; delineia-se em um campo enunciativo onde adquire lugar e status, que lhe apresenta relações com o passado e lhe descortina um futuro eventual. Conforme Ricoeur, a união inédita de dois campos semânticos incompatíveis conforme as regras usuais da classificação cria a faísca de sentido constitutivo da “metáfora viva”. Mas, ainda, quando o efeito de sentido a que chamamos metáfora alcançar a mudança de sentido que aumenta a polissemia (tornando-se uma significação usual e juntando-se à polissemia das entidades lexicais, código ou sistema), nos termos de Ricoeur, a metáfora deixará de ser metáfora viva e passará a ser “metáfora morta”. Metodologicamente, nossa investigação se desdobra em dois momentos. O trabalho ora apresentado corresponde ao primeiro momento, tempo em que nos aproximamos dos elementos da representação social do “malhar” através do “método de associação livre”. Nesta etapa, contamos com a participação voluntária de 194 pessoas adultas de ambos os sexos (114 homens e 80 mulheres). Elas foram convidadas a colaborar com a pesquisa, citando de uma a três palavras ou expressões que lhes tenham vindo imediatamente à lembrança a partir do termo indutor (malhar). Do total de 436 palavras e/ou expressões evocadas, registramos 137 diferentes que foram por sua vez reduzidas por afinidade semântica a seis categorias: (1) saúde; (2) beleza; (3) exercício; (4) sensação/sentimento; (5) condição;(6) sentido etimológico. Destacamos que a palavra malhar, nos dias atuais, no Brasil, é predominantemente associada pelo senso comum à exercitação física e suas conexões e/ou ao universo das praticas físico-esportivas e suas conexões, o que justifica o fato de a mesma ter se juntado à polissemia das entidades lexicais (metáfora morta) com o significado de “fazer ginástica ou exercício físico para fortalecer os músculos e manter a linha”. Quando focamos no propósito de formular hipóteses e/ou questões acerca do acontecimento de emersão da palavra malhar como metáfora (viva) da exercitação física, as evocações nos fornecem elementos que permitem entrever certa historicidade, estabelecendo relações com o sentido etimológico da palavra em tela, que abarca em si a ideia de mancha (mácula), de bater, contundir e dar pancada, de castigar o corpo. Trata-se de um movimento interpretativo que pode ser ilustrado com a seguinte sentença ficcional, inspirada nos dados coletados: “Sinto-me obrigada/o a praticar exercício físico para emagrecer, para ficar na moda, para ficar gostosa/o, musculosa/o, para exibir o meu corpo, para chamar atenção nas festas, mesmo tendo preguiça, apesar de não gostar, de gerar tédio e de ser chato; tanto mais, para praticar exercício físico é necessário disposição, energia, esforço e perseverança, ou seja, é preciso batalhar”.

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