Integra

     Empossado como novo Ministro do Esporte, em substituição a Orlando Silva, Aldo Rebelo em suas primeiras entrevistas manifestou a intenção de não firmar novos convênios com Ong’s. Pensa em direcionar os recursos para estruturas onde o controle dos gastos seja mais eficaz. Como as prefeituras, poderia ter acrescentado...
     No entanto mais uma vez as questões centrais da crise no setor não foram abordadas. O que Aldo não comentou foram as prioridades da Política de Esporte do país. Aliás não precisava. Bastava buscar inspiração em um documento do qual foi signatário no Seminário Esporte e Cidadania realizado em 2002 no Rio de Janeiro, antes da primeira eleição de Lula.
     Ou quem sabe o novo ministro poderia conversar com alguns gestores de programas de democratização esportiva que trataram o esporte como política pública de educação. E que deram certo. Ana Arraes, Roberto Requião, Saturnino Braga, José Arnaldo Amaral, são alguns dos que poderiam ser ouvidos.
     Como pano de fundo a Política de Estado para o esporte no país desde FHC emite sinais em uma direção, rumando para outra. Nos palanques eleitorais, o Esporte Social (voltado ao atendimento das camadas mais pobres da população, praticados nas escolas e bairros populares) é definido como opção preferencial, mas na prática as ações de governo privilegiam o esporte de alto rendimento e os megaeventos (Copa do Mundo e Olimpíadas).
     As críticas e os motes são recorrentes. As manchetes e os articulistas estampam e desancam os estouros de orçamento e o fausto arrogante dos gastos com estádios de futebol e parques esportivos desnecessários.
     O esporte como Política Pública de educação não é discutido como uma prioridade da sociedade brasileira.
     O Programa Segundo Tempo com o meritório objetivo de democratizar a prática esportiva foi o estopim de mais uma crise. Com uma metodologia inadequada, ignora a experiência histórica de projetos bem sucedidos que demarcaram terreno, buscando uma prática de trabalho cidadã combinando de forma integrada as participações da União, estados e municípios.
    Embora seja digno de aplauso o denodo e o cuidado dos órgãos de imprensa na busca da verdade e na denúncia de prováveis atos lesivos ao patrimônio público, soa incompreensível a ausência na quase totalidade dos artigos, crônicas e reportagens de questionamentos dos pontos cruciais sobre o tema.
     Nunca os gestores das políticas públicas de esporte tiveram tanta evidência, mas três questões centrais continuam sendo esquecidas, não só pela mídia como pelos partidos políticos:
       1) Está correta a Política de esportes levada a termo pelo governo federal nos últimos 15 anos?
       2) Priorizar o esporte de alto rendimento e os megaeventos em um país como o Brasil é a opção coerente de um governo que tem como metas a ampliação do mercado interno e a redistribuição de renda?
       3) Do ponto de vista educacional e pedagógico privilegiar projetos vinculados ao esporte de alto rendimento é o mais adequado?
    Cabe ao Estado, nesse setor da vida pública, investir onde sua ação possibilitar a criação de mecanismos geradores de novos empregos, além da multiplicação de programas complementares à formação escolar da criança de baixa renda. Investimentos no esporte social têm uma capacidade de geração de emprego cinco vezes maior (custo per capita) do que no alto rendimento.
    E o maior desperdício de recursos públicos reside exatamente neste ponto. Na definição equivocada de prioridades.

Raul Milliet Filho, doutor em História, especialista em projetos sociais na área pública