Resumo
O jogo de representação (RPG) é um jogo de imaginação regido por regras onde uma pessoa (o mestre) gerencia um mundo imaginário, no qual os outros jogadores interpretam diversos personagens que interagem entre si e com os personagens do mestre, desenvolvendo histórias e possibilitando aos participantes serem “heróis” e viverem aventuras fantásticas em grupo e por meio da imaginação. Devido a isso, o herói no RPG relaciona-se com o mito de Dioniso e elementos da visão trágica do mundo, mas o jogo possui um lado sombrio no excesso da sua prática e patologias decorrentes. Normalmente, o RPG se insere ou na polêmica sobre a violência provocada pela televisão e pelos videogames ou como ferramenta pedagógica, mas não é abordado o seu significado para os jogadores. Assim, a partir da Psicologia Analítica e da teoria do Imaginário, o objetivo desse trabalho foi realizar uma análise simbólica da vivência do mito do herói pelos praticantes de RPG de Curitiba. Para isso foi feita entre 2003 e 2005 a aplicação de um questionário (n=71), entrevistados jogadores (n=14) com longa prática e analisada uma aventura completa de RPG. No jogo, há a vivência do mito do herói pelo jogador, com a aventura dos personagens seguindo o padrão arquetípico da jornada heróica separação-iniciação-retorno, na qual o herói ou personagem de RPG representaria a consciência do próprio jogador. Na figura do herói, o jogador projetaria o que é, o que gostaria de ser e poderia adquirir uma percepção de suas próprias características por meio da interação com os membros do grupo e da interpretação do personagem. Isso é possível porque o RPG resgata aspectos lúdicos, já que possui elementos de rituais de iniciação. No jogo, emerge em forma de fantasia o que era reprimido pelo indivíduo e pela sociedade. Ele representa também o aspecto de busca de transformação ou transcendência do sujeito que na sociedade contemporânea ocorre também por meio dos produtos da indústria cultural.