Resumo
Diante das provocações de alguns autores quanto ao futuro da escola no século XXI (Canário, Barroso, Nóvoa), buscou-se, por meio de uma pesquisa teórica e empírica, identificar, compreender e analisar a rede das organizações brasileiras que realizam ou promovem mudanças no atual modelo da escola. Para isso, definiram-se quatro invariantes da estrutura escolar: o tempo (Elias), o espaço (Viñao Frago e Escolano), as relações com o saber (Tomaz Tadeu da Silva) e as relações de poder (Weber; Foucault), que na modernidade líquida (Bauman) passam por mudanças. Levantaram-se diversos exemplos atuais de ruptura com os invariantes por meio de investigação direta e indireta, tais como entrevistas, visitas a escolas e projetos, pesquisas em redes sociais, materiais de divulgação e diversas produções culturais que tratam sobre o tema. A fim de compreender os processos de transformação e mudança individuais e coletivos observados, retomou-se bibliografia sobre ação e prática social (Gimeno Sacristán) e teorias de análise setorial (Porter). Para contextualizar historicamente tal processo, comparou-se o atual cenário com o movimento escolanovista do século XX. Desta análise inferiu-se o conceito de movimento educacional, permitindo a constatação de que está em curso atualmente no Brasil um movimento de renovação escolar protagonizado por escolas, fundações, órgãos públicos, startups e produtores culturais. As consequências desse movimento ainda são incertas e, por isso, foram apresentadas aqui algumas tendências. A bibliografia indica a continuidade de um movimento de resistência (Singer), paralelamente a um processo de intensificação das técnicas de governo de si (Ó, Hamilton). Nesse movimento são sugeridas tanto mudanças que alteram superficialmente o modelo escolar quanto outras que propõem mudanças significativas, resultando em novos processos educacionais. Compreendendo a escola como um instrumento de produção das estruturas sociais (Bourdieu e Passeron; Petitat; Vincent, Lahire e Thin), concluiu-se que mudanças profundas na forma escolar implicam transformações antropológicas; ressaltando que os possíveis desdobramentos do movimento dependem de nossas escolhas coletivas, sendo de nossa responsabilidade a construção desse futuro ainda incerto e nunca determinável.