Resumo
O esporte está presente na escola sob formas variadas, como conteúdo das aulas de Educação Física e como grupo específico de determinada modalidade, seja para iniciação esportiva (as chamadas escolinhas), seja para a disputa de competições (as equipes de treinamento). Manifesta-se também em momentos de autoorganização dos alunos, quando ocupam os espaços disponíveis - próprios para a atividade ou improvisados - nos horários livres, nos pequenos intervalos e naquele tradicionalmente conhecido como recreio. Por fim, apresenta-se por meio de programas sociais com conteúdo esportivo. Esse estudo se alia à idéia de que a partir do início da década de 2000, sobretudo com o resultado da participação brasileira nas Olimpíadas de Sidney, desencadeou-se um movimento de revalorização das práticas esportivas nas escolas, seja por meio da disciplina curricular Educação Física, seja por meio de programas específicos, ou ainda com a retomada das competições estudantis. As ações públicas decorrentes desse “novo” interesse esportivo pela escola são o alvo dessa investigação, com ênfase nos Programas Esporte na Escola e Segundo Tempo, formulados e implementados por governos de matizes aparentemente distintos. Para tanto, desenvolvemos uma pesquisa bibliográfico-documental e realizamos entrevistas com gestores. Procuramos identificar a origem e a motivação de cada programa, sua inserção na agenda governamental, o desenho institucional e as concepções de Estado, esporte e escola nele contidas. Analisamos, ainda, os movimentos de conciliação e/ou conflito, continuidade e/ou ruptura entre esses programas e entre a área esportiva e a educacional. Constatamos que esses programas, em especial o Segundo Tempo, ainda em execução, não se configuram como política de esporte, no sentido do rendimento, do selecionamento e da especialização, nem como política educacional, no sentido do acesso sistematizado ao conhecimento, da ampliação do repertório cultural e da articulação com outros saberes. Apresentam-se muito mais como programas com perfil de inclusão assistencialista, de ocupação do tempo da criança, tendo como conteúdo as atividades esportivas, configurando-se, ainda, como legitimadores da existência de estrutura governamental específica para o esporte. Contra a dispersão de recursos humanos e financeiros e pela primazia daquilo que é fundamental sobre o que é complementar, apontamos a necessidade de fortalecimento da Educação Física curricular como uma política universal, de caráter estruturante, que pode e deve tratar do esporte nos sentidos amplo e restrito, constituindo-se na melhor alternativa de acesso combinado à educação e ao esporte como direitos.
Palavras-chave: Educação Física. Esporte escolar. Educação. Política Pública.