Resumo

O olímpico amadorismo brasileiro 
José Cruz 
Jornalista

        Apesar de algumas expressões internacionais, como o vôlei, a ginástica, o judô e a vela, o esporte de alto rendimento brasileiro ainda é amador. Tão amador que a própria imprensa ignora o megaevento do Rio, a um mês de sua abertura, sem publicar reportagens expressivas, analíticas. E insiste no noticiário do desmotivado e suspeito futebol de resultados marcados.

        O escasso noticiário olímpico explora a conquista de medalhas. Inexperientes mas deslumbrados repórteres, sorridentes com a credencial olímpica, ignoram os destaques que virão e valorizam nossos atletas como se fôssemos favoritos em tudo. Passam ao leitor/expectador a ideia de que somos imbatíveis. Comportam-se mais como torcedores do que como jornalistas. A isenção cede lugar ao patriotismo eufórico.

        O amadorismo esportivo está, também, nas delegações frágeis do atletismo, triatlo, remo, etc, apesar dos bilhões de reais destinados pelos órgãos públicos.  Está provado: o problema do esporte profissional não é falta de dinheiro. Mas na ausência de gestão e fartura de ladrões.

        O amadorismo está no isolamento dos segmentos profissionais que poderiam caminhar na preparação do Brasil Olímpico: arquitetura, engenharia, administração, economia, nutricionismo, medicina do esporte, enfim. Qual a participação da Academia na construção do projeto global Rio 2016? Onde tentamos construir algo saímos flagelados, como o Laboratório Antidoping...

        Somos amadores (ou irresponsáveis) no compromisso de Governo e do Parlamento. Somente ontem, a 29 dias do começo dos Jogos, o Senado Federal aprovou a legislação antidoping exigida pela Wada. Como transmitir segurança de seriedade às autoridades internacionais? 

       Na gestão, a síntese é esta: entre a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos tivemos quatro – atenção, quatro!!! – ministros do Esporte? E ninguém encaminhou a proposta de um “Sistema Nacional de Esporte” para o Congresso Nacional nem divulgaram os resultados de quatro etapas do "Diagnóstico do Esporte", R$ 6 milhões de custo real ...

       Somos amadores nas relações intergovernamentais, pois até a Autoridade Pública Olímpica, criada para dar seriedade aos bilionários negócios entre os governos, tornou-se vulgar, transformando-se em fenomenal cabide de empregos para desocupados amigos partidários.

        Somos amadores em projetos voltados para os estudantes. Ao longo dos anos que o Brasil/Rio preparou os Jogos, qual a proposta de integração entre esporte e educação apresentada? Qual o real legado para Brasília, que sediou os Jogos Mundiais da Juventude, Gymnasiade?

       Mas, como diz um amigo acadêmico:  “Se não temos nem escolas com salas adequadas, nem professores valorizados, ainda me falas em esporte na escola”?  Faz sentido. Mas somos um país olímpico...