Resumo

O Movimento Olímpico, devido à contestação política que têm como cenário de fundo os Jogos de Pequim (2008), vive um momento crucial que, por paradoxal que possa parecer , está a propiciar as condições necessárias à sua evolução e ao seu progresso. Por um lado, a República Popular da China (RPC) comprometeu-se a realizar a abertura necessária no âmbito do respeito pelos Direitos Humanos quando, em 2001, Pequim recebeu a incumbência de organizar os Jogos da XXIX Olimpíada. Por outro lado, o Comité Olímpico Internacional (COI) passou a sofrer as maiores pressões das mais diversas organizações não governamentais (ONGs), a fim de obrigar a China a cumprir o prometido. Tal como Jacques Rogge reconheceu, o Movimento Olímpico acabou por ficar no meio de uma crise difícil de gerir a contento de todos. Contudo, o ambiente de crises entre o COI e a RPC não era uma situação totalmente desconhecida para as duas entidades. De facto, no início dos anos cinquenta desencadeou-se o designado problema das “duas Chinas” que chegou ao ponto do Comité Olímpico Nacional (CON) da RPC, em plena guerra-fria, abandonar o COI e a generalidade das federações internacionais (FI). Ao tempo, Avery Brundage Presidente do COI, afirmava que o desporto nada tinha a ver com a política. Passados mais de cinquenta anos, como se tem vindo a constatar na Olimpíada de Pequim, a questão das relações entre o desporto e a política, pelas mais diversas razões, ainda não está resolvida. Por um lado, os dirigentes políticos continuam a manipular as questões desportivas de acordo com as suas conveniências, por outro lado, contra todas as evidências, a generalidade dos dirigentes do mundo do Movimento Olímpico continua a afirmar que o desporto nada tem a ver com a política. O objectivo do presente ensaio é analisar a questão política do desporto tendo em consideração as relações passadas e presentes entre a RPC e COI, no quadro do problema das “duas Chinas”.

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