Integra

ização: o Japão tem um histórico malsucedido de campanhas de vacinação. Ou seja, Recentemente li um texto que retratava a lentidão e a dificuldade em vacinar a população japonesa. Achei bastante curiosa a explicação para a pouca adesão e efetiva imunmesmo diante de uma campanha de comunicação social maciça sobre as vantagens e a necessidade dessa conduta, a imunização segue a passos lentos.

Essa semana fui ao mercado, cumprindo a minha rotina semanal de reposição de víveres em uma casa chamada de Pensão Simpatia, em função do grande número de habitantes. O ritual de saída em tempos de pandemia envolve uma série de cuidados tanto antes como depois das compras.

Tudo que é rotineiro deixa marcas que facilitam o reconhecimento das repetições. A moça do caixa que teve uma mudança sensível de humor diante do terror da contaminação. A mulher que vende panos de prato na porta do mercado acompanhada do filho pequeno. A disposição das gôndolas que precisam ocupar o espaço do café que agora nada serve. O senhor, funcionário do sacolão, que vende canetas para complementar o salário que já não paga a conta de luz. E foi com esse senhor que me detive. Ele não pedia esmola. Apenas queria vender suas canetas para poder saldar a conta de um serviço sem o qual não se vive nesse louco mundo de aparelhos eletrodomésticos em que vivemos.

Conversamos um pouco. Ele me falou das contas da casa, quantas pessoas moram nela e a necessidade de complementar a renda sozinho já que as demais estão impossibilitadas de trabalhar. Fiz questão de contribuir. Afinal, todo trabalho é digno. Feliz por ter cumprido sua meta, sacou do bolso o cartão de vacinação contra a covid. Orgulhoso e sorridente mostrou que estava se cuidando e me perguntou quantos dias precisava esperar para tomar a vacina da gripe também. Fizemos as contas juntos e ele marcou a data em seu cartão para não perder a oportunidade de se imunizar contra aquilo que também pode matar, de fato, uma gripezinha.

Voltei para casa com aquela cena na cabeça. Um pessoa pouco escolarizada, mas iniciada na educação para a saúde, é capaz de compreender perfeitamente a necessidade de um imunizante. Seja para a gripe, seja para a covid. Certamente essa postura vem das campanhas bem-sucedidas de vacinação das últimas décadas o que levou à erradicação de doenças como a poliomielite e mesmo o sarampo.

O orgulho estampado no rosto daquele senhor sintetizava a alegria por se sentir menos suscetível ao vírus e também por pertencer a um grupo que, mesmo sem ter todas essas palavras, acredita na ciência e que o mundo é redondo. A mesma chama que brilhou nos olhos do meu interlocutor aqueceu minha alma. Assim como ele tive a convicção de tantos outros brasileiros farão o mesmo.

Espero ainda que de alguma forma isso se reflita no Japão. Falta pouco mais de um mês para os Jogos Olímpicos e vejo todo o esforço para que se mantenha uma tradição. Inventada para celebrar a humanidade essa edição dos Jogos pode ensinar muito mais do que competir. Nessa queda de braço, que é muito mais do que uma disputa olímpica, é preciso informação, esforço coletivo e confiança.

Adaptado para superar as dificuldades de realização, o sistema de classificação das provas afirma a necessidade de flexibilidade, inclusive das tradições, para superar um momento tão delicado. Isso por si só já oferece uma grande lição para toda a humanidade. Sigo na esperança de que muitos aprendam.