Resumo
A dor musculoesquelética é uma condição prevalente, responsável por altos custos para os indivíduos e sistemas de saúde de todo mundo. Dentre as condições existentes, a dor lombar destaca-se por ser uma das condições musculoesqueléticas mais prevalentes e por liderar o ranking de anos vividos com incapacidade no Brasil e no mundo. Apesar dos tratamentos a base de atividade física serem consistentemente recomendados para o tratamento da dor musculoesquelética, existem limitadas evidências investigando a influência da atividade física e de comorbidades possivelmente relacionadas a prática insuficiente de atividade física em pessoas com dor crônica musculoesquelética. Portanto, essa tese possui o objetivo de entender melhor a relação da atividade física e de fatores relacionados a prática insuficiente de atividade física na dor musculoesquelética, incluindo dor lombar. O objetivo do capítulo 2 desta tese foi conduzir uma revisão sistemática para investigar o papel prognóstico da atividade física no curso da dor lombar. Identificar fatores que influenciam o curso da dor lombar é importante para ajudar clínicos a identificarem aqueles pacientes com alto risco de não se recuperarem. Os estudos identificados foram heterogêneos em termos de avaliação da atividade física, resultados, duração do acompanhamento e métodos estatísticos. Nossa revisão encontrou evidências limitadas para apoiar o papel prognóstico da atividade física no curso da dor lombar. Do ponto de vista da atenção primária, a coexistência de dor musculoesquelética crônica e doenças cardiovasculares revelaria a necessidade de desenvolver novas estratégias de prevenção e tratamento que abordem doenças cardiovasculares e fatores de risco associados, além de reduzir a dor e a incapacidade. No capítulo 3 desta tese investigou-se a magnitude da associação entre doença cardiovascular e dor musculoesquelética crônica. Nós encontramos evidências de alta qualidade de que as pessoas com dor musculoesquelética crônica têm 1,91 vezes mais chances de relatar uma doença cardiovascular em comparação com aquelas sem dor musculoesquelética crônica (razão de risco: 1,91, Intervalo de Confiança de 95%: 1,64 a 2,21). Portanto, nossos achados demonstraram associações entre dor musculoesquelética crônica e quaisquer doenças cardiovasculares. Desde 2001, revisões comparando diretrizes de práticas clínicas para o manejo de pacientes com dor lombar não específica têm sido conduzidas com o objetivo de apontar as mensagens com consenso e as diferenças entre as diretrizes da prática clínica. Portanto, o objetivo capítulo 4 foi atualizar a ultima versão destas revisões publicada em 2011 investigando as recomendações relativas ao diagnóstico e tratamento de pacientes com dor lombar não específica para na atenção primária. Para diagnóstico da dor lombar não específica, as diretrizes da prática clínica recomendam coletar a história clínica e o exame físico, identificar bandeiras vermelhas, testes neurológicos para identificar a síndrome radicular, uso de imagens em caso de suspeita de patologias sérias e avaliação de fatores psicossociais. Para o tratamento de pacientes com dor lombar aguda, as diretrizes recomendam assegurar quanto ao prognóstico favorável e aconselhar sobre o retorno às atividades normais, evitar repouso no leito, uso de anti-inflamatórios não esteróides e opióides fracos por curtos períodos. Para tratamento de pacientes com dor lombar crônica, as diretrizes recomendam o uso de antiinflamatórios não esteróides e antidepressivos, terapia por exercício e intervenções psicossociais. Além disso, o encaminhamento a um especialista é recomendado em caso de suspeita de patologias específicas ou radiculopatia ou se não houver melhora após 4 semanas. Apesar de intervenções a base de atividade física serem recomendadas para tratamento da dor crônica musculoesquelética, ainda é incerto os efeitos das intervenções de atividade física nos níveis de atividade física auferidos objetivamente em pacientes com dor musculoesquelética crônica (por exemplo, osteoartrite, dor lombar) em comparação com nenhuma / mínima intervenção. Portanto, no capítulo 5 foi realizada uma revisão sistemática com meta-análise, a qual identificou baixa qualidade da evidência sugerindo que estas intervenções podem levar a pouca ou nenhuma diferença mediram os níveis de atividade física de pacientes com dor musculoesquelética crônica em comparação com nenhuma / mínimas intervenções. Além dos efeitos no nível de atividade física, também não se sabe os efeitos de tratamento de intervenções baseadas em atividade física usando feedback eletrônico em pacientes com dor crônica musculoesquelética. Por meio de revisão sistemática, no capítulo 6 foram identificados apenas quatro ensaios clínicos randomizados publicados e quatro ensaios clínicos randomizados não publicados registrados foram incluídos. Nossos resultados sugerem que intervenções baseadas em atividade física usando feedback eletrônico podem ser ineficazes na redução da dor e incapacidade em comparação com intervenções mínimas em pacientes com dor musculoesquelética crônica. Após extensa investigação da literatura disponível, observou-se que o efeito de terapias a base de exercício na dor e na incapacidade é, na melhor das hipóteses, moderado e não sustentado ao longo do tempo. Uma das razões pode estar relacionada a limitação dos atuais programas de exercícios para dor lombar crônica de não serem projetados para mudar o comportamento dos pacientes para um estilo de vida ativo. Portanto, nos capítulos 7 e 8 desta tese foi investigado a eficácia, a curto e longo prazo, da adição do coaching em saúde e uso de um monitor de atividades (isto é, Fitbit Flex) aos exercícios supervisionados em comparação com um grupo recebendo apenas exercícios supervisionados, nos níveis de atividade, intensidade da dor e incapacidade de pacientes com dor lombar crônica não-específica. Os desfechos clínicos foram analisados por avaliadores cegos antes da intervenção, 3, 6 e 12 meses após a randomização. Os desfechos primários foram atividade física, medida objetivamente com um acelerômetro, bem como intensidade e incapacidade da dor aos 3 meses após a randomização. Um total de 160 adultos com dor lombar crônica foram aleatoriamente distribuídos nos dois grupos. Em relação as avaliações autorrelatadas, 139 (87%) pacientes completaram a avaliação de três meses, 107 (67%) completaram a avaliação de seis meses e 111 (69%) completaram a avaliação de 12 meses. Nas avaliações utilizando o acelerômetro, houveram grandes perdas nos acompanhamentos e, por isso, optou-se por reportar apenas os resultados dos desfechos autorrelatados. Não houve nenhuma diferença entre grupos nas avaliações de 3, 6, e 12 meses para nenhum dos desfechos primários, assim como, para nenhum dos desfechos secundários. A adição do coaching de saúde aos exercícios supervisionados não foi capaz de reduzir a intensidade dor de incapacidade de pacientes com dor lombar crônica quando comparado ao grupo placebo.