Resumo

Buenos Aires. Metade do século dezenove. Uma política de fomento à imigração européia traz às terras portenhas mais de seis milhões de imigrantes. Ao contrário do que o governo argentino esperava, as que compunham esse cenário não eram pessoas requintadas, conhecedoras de arte e ciência, muito menos mão de obra qualificada. Os imigrantes de pouca instrução e de poucos meios que passaram a fazer parte da população residente nos arrabais portenhos, assolados pela saudade de suas terras, buscando no ambiente prostibulário por uma “natural” comunhão, dão origem ao tango nas últimas décadas do século dezenove. Por volta da mesma época, os irmãos Lumière produzem o invento que chamariam de cinematógrafo, palavra de raiz grega que significa “registro do movimento”. Portanto, percebo o tango e o cinema como expressões contemporâneas, no sentido de que ambas tem sua gênese ao final do mesmo século. Alguns/algumas historiadores/as apontam ainda que o cinema é um dos responsáveis pela valorização do tango e por seu reconhecimento mundial no decorrer do século passado. O que de certa forma sublinha a relação entre o cinema e a história. Sendo assim, esta dissertação de mestrado propõe analisar como os aspectos históricos do tango argentino são representados na película Tango de Carlos Saura. Usando o aporte teórico dos Estudos Culturais e entendendo as produções cinematográficas como artefatos pedagógicos, busco perceber quais são os sentidos produzidos sobre a história do tango argentino na narrativa construída por Saura. Inicio meu exercício analítico com um olhar atento sobre os elementos técnicos de cenário, iluminação e figurino empregados na construção da obra. Somado a isso, a linguagem cinematográfica utilizada por Saura, perceptível por meio dos planos, ângulos e movimentação de câmera, também são aspectos importantes que compreendem a análise. São quatro os momentos históricos do tango representados na película escolhidos para compor esse estudo. O período imigratório, quanto a sua relevância e envolvimento na gênese do tango, os duelos criollos e o tango dançado entre homens, o ambiente prostibulário e o tango entre mulheres e, por fim, o período da ditadura militar argentina em sua relação com o tango. Ao considerar esse último aspecto tento perceber ainda como outras películas abordam a memória do período, em especial quanto a temática do exílio. Por fim, proponho uma análise da dramaturgia da dança executada em cada uma das cenas a fim de perceber o que a linguagem coreográfica nos diz sobre o período que representa.

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