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(INTRODUÇÃO) A atual obsessão pela beleza determina o controle do peso corporal como norma reguladora de uma economia subjetiva na qual o status social e a felicidade rrespondem à filiação do sujeito ao modelo de corpo magro erigido nos limites entre a auto-satisfação e a somatopatia.

(OBJETIVO) Pretende-se desvendar, à luz de Foucault, as relações de poder que fundamentam o controle do peso corporal como uma norma social a partir dos discursos de mulheres praticantes de exercício físico em academias de ginástica.

(METODOLOGIA) Este estudo qualitativo, de campo e exploratório foi realizado com 30 mulheres de 23 a 81 anos (média = 46 anos) com tempo médio de prática de exercício físico em academia de 11 anos, as quais foram escolhidas em 6 academias de ginástica da cidade do Recife selecionadas randomicamente. Para coleta de dados optou-se pela técnica photo elicitation com apoio de um tópico guia formado por questões pré-determinadas para cada figura. Utilizou-se como instrumento um roteiro de entrevista constituído por 15 imagens selecionadas na internet e que foram testadas previamente em um estudo piloto. As falas foram gravadas utilizando o gravador do tipo MP3 da marca DL modelo MW 141. O tempo das entrevistas variou entre 30 min. e 1h50. Como técnica de análise de discurso seguiu-se a análise de enunciados com base na proposta arqueológica foucaultiana. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Pernambuco e obteve registros de número 213/08 (CEP/UPE) e 0191.0.097.000-08 (CAEE).

(RESULTADOS) A partir das categorias enunciativas identificadas - O terror de engordar; O domínio midiático da aparência corporal; Escravos da balança, do espelho e da roupa; Poder sobre o peso e bem-estar - é possível entender que o excesso de peso representa a transgressão de padrões culturais e institucionais de corpo. Essa transgressão resulta em punição social que culmina em patologização, preconceito e exclusão do corpo anormal. Nas falas analisadas o excesso de peso é compreendido como prejudicial às relações sentimentais e profissionais. O corpo "gordo e pesado", por exemplo, não sendo "legal", aparece nos discursos como subversivo e, por isso, não pode ser revelado abertamente. A gordinha enquanto arquétipo da exclusão é considerada descuidada, refletindo os estereótipos de "preguiça", "falta de força de vontade" e "sofrimento". A balança e o ato de se pesar representam "martírio", "castigo" ou "obrigação" de vigiar o peso para alcançar um stado ideal.

(CONCLUSÃO) O controle do peso corporal está vinculado a relações de exclusão, normalização e interdição desenvolvidos sobre corpos desviantes e relações de valorização, estimulação e aceitação dos corpos padronizados e belos. Concordando com Foucault - para quem o corpo é efeito das relações de poder - constata-se que o role do peso corporal atua como poder normativo que tem função paradoxal, ou seja, disciplina e padroniza o corpo ao mesmo tempo em que promove bem-estar, autosatisfação, prazer e reconhecimento do corpo controlado como socialmente belo.