Resumo

A prática do futebol no Brasil, nos primeiros anos desde sua introdução no país, configurou-se de forma predominantemente amadora e elitista. No entanto, a sua crescente popularidade em todos os setores da sociedade, inclusive entre as classes populares, levou à progressiva inclusão de jogadores de origem humilde e à inserção de práticas de remuneração. Visto que as grandes ligas permaneciam nominalmente amadoras, mas os clubes começavam a manter relações semiprofissionais com os jogadores, esta situação gerou grandes contradições, que foram percebidas de forma cada vez mais intensa no início da década de 1930. Como resposta, surge, em 1933, no Rio de Janeiro, o movimento que ficaria conhecido como Ligas Especializadas, que visava oficializar e instituir o futebol profissional no Brasil.A partir de então ficava dividido o cenário futebolístico nacional entre partidários do amadorismo e da Confederação Brasileira de Desportos de um lado, e os do profissionalismo e das Especializadas de outro. No estado do Rio Grande do Sul, no entanto, o movimento das Especializadas, chegou tardiamente, apenas em 1937, causando uma divisão no futebol local até o final de 1938. Neste contexto, o presente trabalho se propõe a analisar o discurso do periódico Correio do Povo, na época o jornal de maior circulação na capital gaúcha, acerca da crise das Especializadas, durante sua vigência no Estado.Manifestando um posicionamento claramente favorável à corrente cebedense, o jornal justifica-se por meio da articulação de duas linhas de argumentação: a consideração de que o profissionalismo no esporte era uma prática imoral; e a ideia de que era preciso promover a pacificação, solucionando o dissídio causado pelos especializados. Ambos os argumentos aproximam-se fortemente da política adotado pelo governo de Getúlio Vargas perante a questão do esporte, tal qual ela é expressa no Decreto-Lei 3. 199, a principal legislação desportiva promulgada durante o Estado Novo.

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