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O programa Bolsa Atleta, do governo federal, foi lançado em 2005 para apoiar aqueles
que mais se destacarem no esporte brasileiro. Considerando apenas os esportes que mais distribuem medalhas em olimpíadas, o Atletismo e a Natação, nota-se que o aumento de medalhas conquistadas por nossos atletas foi pífio desde a implantação do programa. Se, antes de 2005, os atletas dependiam de apoios esporádicos, tendo que manter seus treinamentos, muitas vezes, em condições precárias, por quais motivos o desempenho do esporte brasileiro nessas duas modalidades não atendeu às expectativas do programa Bolsa Atleta? A partir das Olimpíadas de Pequim, em 2008, tivemos um ouro com Maurren Maggi e um ouro em 2016 com Thiago Braz. Porém, o Brasil já tinha conquistado medalhas de ouro anteriormente ao Bolsa Atleta com Ademar Ferreira da Silva e Joaquim Cruz. Quanto às medalhas de prata e bronze, o desempenho foi irrelevante a partir de 2008, quando comparado às olimpíadas anteriores. Em relação à natação, tivemos um ouro com Cesar Cielo em Pequim 2008 e outro com Ana Marcela em Tóquio 2020. Em relação às medalhas de prata e bronze, não houve crescimento significativo.

Preocupante é verificar que em Paris 2024, a Natação não conquistou nenhuma
medalha, e o Atletismo apenas uma de bronze com Alysson dos Santos. Afinal, o programa Bolsa Atleta não deveria ter potencializado pelo menos os dois esportes que mais distribuem medalhas? No entanto, houve um nítido decréscimo de rendimento neles nas Olimpíadas de 2024. Como explicar isso?

Podemos justificar de muitas formas o fraco desempenho atual dos atletas de Natação
e Atletismo e, provavelmente, o Comitê Olímpico Brasileiro fará isso. Poderemos dizer, por exemplo, que o Brasil tem o mais baixo PIB per capita entre os vinte maiores ganhadores de medalhas em Paris. Poderemos dizer que as ondas não ajudaram no surfe. Poderemos alegar contusões etc. Mas não podemos justificar como esportes, que até o início dos anos 2000, como Atletismo e Natação, vinham crescendo, deixaram de crescer, sendo que agora os atletas recebem amparo financeiro do governo.

Quem sabe não basta somente apoiar financeiramente os atletas que já estão na elite.
Antes de chegar na elite, como foram formados, ou descobertos? Afinal, devemos formar ou descobrir atletas?

Não temos programas de educação esportiva em nosso país, a não ser,
excepcionalmente, algumas iniciativas isoladas e espalhadas aqui e ali por nosso país.O caminho trilhado por nossos governos federal, estaduais e municipais, além de clubes, federações e confederações, é o da descoberta de talentos, o da garimpagem. Quando um ou outro talento é descoberto, ele é agraciado com uma bolsa e fica sob a responsabilidade de um técnico ou técnica. Esses técnicos se responsabilizam pelo desenvolvimento desses talentos, mas não há quem se responsabilize pela educação esportiva de nossas crianças e jovens. Não há quem forme uma base educacional esportiva no país, donde sairiam os medalhistas olímpicos.

Os caminhos são dois e, nitidamente, diferenciados: um deles é aguardar que, aqui e
ali, surjam grandes talentos para receberem amparo financeiro e treinamentos de alto nível. O outro é ensinar a todos, ensinar multidões de crianças e jovens, sem que o objetivo seja formar o campeão olímpico, mas reconhecer seu direito a uma educação cidadã por meio do esporte. Nessa segunda opção, inevitavelmente teríamos esporte de alto rendimento, mesmo que não seja esse o objetivo maior. Uma nação olímpica faz-se com educação esportiva para todas as pessoas, como um direito reconhecido a elas. O esporte educacional seria, sem dúvida, mais eficaz que a garimpagem de talentos.