Integra

Dias atrás, acompanhava um debate  no podcast  Ponta de Lança, apresentado pelo jornalista Hélio Alcântara, o Helinho. Jornalista esportivo das “antigas”. Os convidados eram os ex jogadores Olivio Pitta e o ex goleiro Mário Aranha. Ambos em suas carreiras alcançaram destaque, muito mais pelas causas que abraçaram e pelo comportamento político que pelo futebol, não porque eram medíocres, pelo contrário, tiveram  destaque como atletas. Não à toa vestiram camisas importantes do futebol, como Corinthians e Palmeiras. Mas Aranha  ganhou destaque mais pela luta antirracista e Pitta por ser identificado com a esquerda libertária em plena ditadura militar. 
É fato que o esporte, por muitas vezes, cria uma espécie de “estado de exceção” por onde passa. No caso do Brasil as exceções são extensíveis a vários espaços incluindo até o ambiente escolar, onde crianças são retiradas da vida e do convívio escolar para se tornarem atletas. Vejam o caso da ginástica artística que permite o trabalho infantil sem constrangimentos em nome do olimpismo. 
Nesta toada, a pergunta é: qual o lugar do racismo no esporte? A resposta adequada seria  o mesmo lugar que ele ocupa na sociedade, ou seja, em todas as estruturas de acesso ao poder e postos de comando, o que torna os negros e negras subalternos a priori em função da hierarquia imposta pelo racismo estrutural. O racismo no futebol é tema recorrente nos portais esportivos, na polícia e nos estádios. O kinder ovo é que por dentro das campanhas contra o racismo se esconde o racismo que habita as entranhas do futebol. Por trás das arquibancadas se esconde um universo de discriminações, misoginia, homofobia, hipocrisia, golpes, corrupção, exclusão e conservadorismo. 
Vale sempre alertar que o esporte não é algo metafísico ou descolado da sociedade e dos problemas sociais. Ele espelha, produz e reproduz todo o metabolismo social, podendo, inclusive, exacerbar alguns problemas sociais, como as desigualdades econômicas, por exemplo. O fosso econômico entre as equipes de futebol é absurdo, para citar um exemplo. As equipes da Europa central têm um poderio econômico sem comparativos na América do Sul, só para ficar no continente que rivaliza com o futebol europeu. No próprio continente sul-americano as desigualdades se exacerbam. Já no Brasil 90% dos atletas profissionais não têm garantia de emprego e recebem - quando recebem - salários abaixo do mínimo - salário mínimo mesmo. 
Portanto, o esporte é capaz de esconder e manter relações de trabalho que contém tudo de ruim que a sociedade e os trabalhadores tentam superar. 
O racismo no esporte talvez seja ainda mais cruel. Cantos e ofensas racistas são permitidos nos estádios. Mas na sociedade é diferente? A violência policial está aí que não me deixa mentir. Quantos negros dirigentes, técnicos e ou presidentes de clubes e federações você conhece? Faça uma lista, então.